Mr. H, você já venceu!


Marcus Vinicius Batista

Caro Mr. H,

Você não vai ler esta carta a tempo. A tempo de levantar armas antes da hora, como muitos fariam. Sem hora para entrar em batalha com sangue nos olhos, nas veias e no canto da boca, como vários ficariam de prontidão.

Você vai vestir somente a armadura. Sem lanças, espadas, arcos e flechas, nada que possa ferir alguém, que possa sangrar um inimigo externo que, por sinal, teria que ser inventado.

Sua armadura não é aquela que a maioria se enfeita como autoproteção, até de forma carnavalesca. Sua armadura é pacificadora, a que você carrega como segunda pele, invisível para os irritados, incompreensível para os raivosos, impossível para os intolerantes.

Mr.H, você ainda não sabe, mas esta luta já machuca quem te ama, quem gosta de estar ao seu lado, por perto ou conversando de vez em quando. Dói porque é um adversário forte, implacável, resistente e frio. Este oponente percorreu toda a história, ganhou diversos nomes, origens, causas, sintomas e desfechos. Hoje, leva nome de signo, de fundo mitológico.

O currículo dele, fato, é invejável, porém ele jamais terá o que você exala, irradia com naturalidade, sem afetação, sem artificialismo, sem fazer pose, sem atuar para as luzes. Mr.H, o câncer não tem seu carisma, não possui sua amabilidade, não conhece tua generosidade, não pode comprar teu sorriso, tua paz de espírito, não pode abalar teu olhar sereno que poucos líderes apresentam quando a vitória ainda não aproximou ou quando acreditamos, por fragilidades nossas, em derrotas.

Nunca te vi irritado, nervoso, com punhos cerrados, com dedo em riste ou voz subindo de tom. Sempre te encontrei sorrindo, um cavalheiro inglês sem os trajes vitorianos, um cacique que não se senta ao solo, mas sempre ouve a todos, pondera, escuta novamente, espera, reflete e indica o caminho com poucas palavras.

Você, Mr.H., será o protagonista de uma guerra que – não se engane – não será só sua. É uma guerra metafórica, sem vítimas do lado de cá, talvez com dor, porém com apoio voluntário de inúmeros soldados, de um exército de sangue, de aliados de encontros da vida, de apoiadores e simpatizantes que vão brotar de todos os endereços por onde o senhor passou.

Vou publicar este texto para que você não leia antes da hora. Antes que o homem de branco te diga não a sentença, ao contrário disso, te informe por onde você caminhará nos próximos dias, semanas, meses. Os caminhos que você seguirá, como ensinou a tantos, sem fazer barulho, sem alarde, sem vaidade, sem vitimismo ou desejos de carregar o mundo nas costas.

Esta luta, Mr.H, não será só sua. Ela é nossa. Ela é de todas as pessoas que estão perto todos os dias, que são cúmplices há décadas, que te encontram semanalmente ou, como eu, que te viram com admiração no mês passado.

Mr.H, tenho uma certeza neste cenário que se abre: você estará sorrindo para as três gerações que convivem contigo. Todos iremos aprender com você. Esta é uma hora que, de maneira involuntária, se fazem vivos ensino e aprendizagem.

Todos os olhos estarão para ti. Se o medo bater à porta, ninguém atenderá. Se a dúvida espernear, daremos mais um passo. Se o câncer insistir, vamos extirpá-lo com apoio da medicina, mas – principalmente – com aquilo que nos mostrou pelo exemplo: o amor, a cumplicidade, o respeito.

Estaremos ao seu lado, atrás e à frente, num cordão de isolamento tão consistente que o inimigo não terá noção de quem o venceu e o deixou no passado, o transformou em História.
 

Comentários

Cidinha Santos disse…
Não sei quem é "H", mas desde já me solidarizo e me coloco a disposição para o que for necessário. Marcus, mais uma vez, obrigada por nos trazer tantas histórias....