Um simples caminhar



Giselle de Almeida*

Bateu o sinal da escola! Ufa!! Hora de ir embora. O estômago num permanente roncar de fome; afinal, já era meio dia. Entre passos apressados e olhares investigadores, eu procuro minha amiga no meio dos alunos da escola. Eis que escuto:

— Me espera aí, sua louca!

Ela segurava o material no braço direito e, acelerada, vinha em minha direção.

Eu disse:

— Vamos logo! Tô morrendo de fome.

Assim iniciava nossa jornada matinal de volta para casa.

Os murmurinhos dos alunos se misturavam ao som dos motores dos carros passando na rua. Aos poucos, os alunos que caminhavam junto a nós se dissipavam até ficarmos só nós duas. Nessa hora que o papear nascia.

Nossas prosas eram interrompidas por risos espontâneos, dependendo do tema conversado. Um assunto levava a outro, a ponto de começarmos falando da professora ranzinza de matemática e embeiredar para carolinas da padaria na esquina da escola.

Nossos passos eram lentos e compassados que pareciam alimentar a conversa. Eis que surgiu um silêncio.

— Que cheiro é esse?, perguntei.

Nós nos entreolhamos e confirmamos a percepção daquele aroma e, juntas, falamos:

— Cheiro de comida! Deve ser um assado.

Apertávamos os passos, devido à fome que aumentara. De forma célere apenas nos primeiros instantes, tornávamos a lentar e a prosear. Seguíamos na rua, essa, cúmplice dos assuntos mais variados que duas adolescentes poderiam ter.

Quase que sem perceber, já havíamos andado cinco quarteirões largos. Eis que chegávamos ao final do percurso. Estávamos na esquina. Aquela que dividia os nossos trajetos. Mas era exatamente nessa parte do caminho que se perdurava os minutos, e a despedida tornava-se apenas o começo de mais assuntos. Como era divertido!

— Tenho que ir embora, minha mãe deve estar preocupada.

Eu falava assustada com a hora, que passara rápido. E saía a passos largos em direção a minha casa. Acenava para ela, que também tomava seu caminho.

Nós nos formamos, profissões diferentes tomamos, motivo esse que gerou o distanciamento. Mas nunca deixamos de perder o contato.

Estou num dia frenético, atribulado, dentro de um táxi, querendo que o tempo parasse para eu chegar no horário no trabalho. Os semáforos não colaboram, parecem sentir que meu táxi está perto e logo disparam o sinal vermelho, mais uma pausa.

Aflita, olho pela janela do carro e vejo alunos. Parecem estar voltando da escola. Olhei para o relógio. Meio dia. Nesse momento, o tempo me arremeteu a 1996, e uma saudade imensa me invadiu.

E murmurei com saudosismo e carinho:

— Minhas voltas da escola com minha amiga!
* Texto produzido durante o curso Crônica: uma Escrita Afetiva, que aconteceu no Lobo Estúdio, em Santos. 

Comentários

Elisabete disse…
👏👏👏👏👏
Me emocionei!!! Me vi nesse texto!!
Parabéns!!
Unknown disse…
Lindo demais! Uma nova escritora. Beijo!