E chega a notícia da data de sua partida. Como assim? Ele, a raiz!!! Não é para sempre?! Ele que sempre foi o cuidador, forte, sempre presente e disponível na vida dela, sua filha.
Foram ao médico que, em poucas palavras, deu a data de sua partida: 6 meses.
Segundos que duraram uma vida inteira, passa um filme na cabeça da filha que olha atentamente para o pai, tentando imaginar o que se passa dentro dele.
O silêncio se quebra e o médico continua: "Fique tranquilo, iremos cuidar bem do senhor".
A filha continua olhando o pai que, do seu jeito sempre tranquilo e otimista, responde: "Ah!, então vai ficar tudo bem. Vamos fazer o que for preciso."
A filha, sempre menina, acredita. E durante toda a maratona de 8 meses assim o foi.
O pai sempre bem humorado, sem reclamações e muito aplicado as recomendações foi se preparando e preparando a todos.
Até que, numa determinada consulta, quando o médico pergunta: "E o senhor, como está?"
Ele, com seu humor peculiar, responde: "Creio que meu prazo de validade está vencendo, doutor", e logo emenda outra graça para quebrar o clima.
Noutro dia, pergunta à filha: "Será que vou dar conta da eternidade? Será que não vou enjoar de escutar harpa e comer manjar?" E dá sua risadinha costumeira, assim agia sempre em relação as questões existenciais, simplesmente aceitava.
Doeu, doeu muito, perdê-lo. Hoje, ela sabe que a raiz ficou para sempre dentro dela.
Fizeram um combinado de um reencontro depois de sua partida. Ela acredita no céu, ele tinha dúvidas.
Após alguns meses, ela saindo para trabalhar, o viu vindo em sua direção.Um abraço forte e muitas lágrimas... Se foi sonho, imaginação, verdade,nunca saberemos, mas assim o foi!!
Nossa essência continua e se transforma numa energia viva dentro dos amados e a raiz continua dando frutos. A filha tenta praticar cotidianamente bom humor e aceitação diante dos problemas da vida, adubo para a raiz, lenitivo para saudade!!!
* Crônica que nasceu do módulo Escritas do Cotidiano, do curso de Formação de Escritores, da Prefeitura de Santos.
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