O Dia da Família Simples


Márcio Valente

No Brasil, O Dia da Família foi criado em 8 de dezembro, conforme Decreto Lei 52.748 assinado pelo então Presidente João Goulart, em 1963. Mas não é desse dia que estou falando, mesmo porque acredito que a maioria das pessoas nem ao menos saiba que esse dia existe. Talvez porque ele ainda não tenha caído nas garras selvagens do capitalismo.

O dia que me reporto é o Dia da Família, instituído na escola dos meus filhos, em substituição ao Dia das Mães e ao Dia dos Pais. A justificativa? Não gerar eventual constrangimento para aquela criança que vive a ausência de um deles, seja por falecimento, abandono, separação ou por existirem famílias compostas apenas por dois pais ou duas mães, em caso de adoção feita por casais homoafetivos.

O tema é delicado, sem dúvida, ainda mais numa sociedade pouco desenvolvida e impregnada de intolerância e preconceito.

A saída encontrada pela escola é sutil e tem as melhores intenções. Mas não resolve o impasse. A mídia onipresente em nossas vidas com força e vigor propaga bombasticamente tanto o Dia das Mães como o Dia dos Pais. E nossos filhos, lógico, sabem que eles existem, tendo ou não comemoração no ambiente escolar.

Na verdade, tanto de um lado - pais tradicionais que não gostam muito da ideia ou pais egocêntricos que acham um absurdo ou a suposta maioria de pais que não liga ou finge não se importar - como de outro - a escola e seus respectivos educadores -, todos agem veladamente. Todos fogem de uma forma ou de outra de uma situação, vamos chamar inusitada, para pegar mais leve, ao invés de constrangedora.

Mas e daí? Ações e omissões à parte, o que fazer?

Viver o Dia da Família incessantemente! Seja qual for a família, de dois, três ou dez integrantes, com ou sem parentesco sanguíneo, homoafetivo ou heteroafetivo.

A família é nossa origem. É o núcleo onde o amor e a cooperação devem ser incondicionais, onde aprendemos a respeitar nossas diferenças, onde podemos expor nossas fraquezas fortalecendo nossas relações, onde confidenciamos nossos erros e serenamente comemoramos nossos acertos. É o alicerce que nos sustenta para o mundo.

Façamos o Dia da Família o dia mais especial do ano, muito mais importante do que o Dia das Mães, o Dia dos Pais, Natal, Ano Novo, Páscoa, etc. E não vamos simplesmente comemorar aleatoriamente como nesses dias, vamos fazer melhor! Vamos vivenciar simples e efetivamente, sem festejos, sem presentes, sem almoços fartos e caros.

Nesse dia vamos acordar e desejar bom dia. Deixar o smartphone de lado e olhar nos olhos do outro quando conversarmos. Vamos ouvir. Vamos abraçar inesperadamente. Vamos almoçar ou jantar, juntos. Vamos parar de nos enganar. Vamos agir como falamos. Vamos sorrir, vamos chorar, nos emocionar e, no fim do dia, dar um beijo de boa noite.

Para esse dia, acontecer podemos até escolher a data ou até mesmo as datas. Pode ser mais de uma por ano, porque não?! Podem ter vários Dias das Famílias. Podemos viver esse dia todo dia, que tal?

Utópico? Difícil? Para os dias de hoje, pode até ser, mas garanto, nem mesmo minha família será capaz de impedir essa minha tentativa de viver esse(s) Dia(s) da Família.


Comentários

Junior Landim disse…
Salve Márcio! Continue sendo esse cabra Valente, que faz da sua existência exemplo de como buscar a verdadeira paz. Paz que vemos nos seus olhos quando está ao lado de seus filhos e esposa. Sua Família!
Unknown disse…
Lindo, repleto de afeto e e proposição de amor, respeito e união. Que todos os dias possamos viver família.