6 X 1 - Estamos em guerra! (Escritas do Cotidiano # 12)


Maurina Passos* 

Em tempos de Copa do Mundo, este poderia ser o resultado de alguma partida de futebol. Um time mais forte, com posse de bola, acertos de passes, jogadas inteligentes e, portanto, mais preparado com todos os recursos para chegar à Copa, fazer bonito. Sim! Seis a um! Como não?! Acuar o adversário até que se perceba quem está com a bola toda. Depois dos primeiros gols, lutaria inutilmente para resistir ao avanço do outro time.

Seis a um, infelizmente, não é o resultado de qualquer equipe defendendo sua pátria na maior festa do futebol mundial, a Copa de 2018. Este é o triste resultado de mais uma tragédia na cidade que um dia recebeu o epíteto de Cidade Maravilhosa.

A notícia dizia que o resultado de uma ação conjunta das polícias civil e militar, na favela da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, para cumprir 23 mandados de prisão, terminara com seis suspeitos mortos e um menino de 14 anos em estado grave. No dia seguinte, não resistindo aos ferimentos, morreu.

Mal começou a viver e já conheceu a dor de uma bala perdida. Em que tempo poderíamos imaginar uma violência dessas contra crianças e jovens, como acontece no Rio de Janeiro? É mesmo um mundo sem fronteiras, sem limites, sem respeito à vida.

Neste mundo sem fronteiras, dia após dia acontece a luta para garantir o domínio de um território a qualquer custo. Um puxadinho pode ser palco de cenários cinematográficos, onde polícia e bandido brincam no quintal de casa. Estamos em guerra, mas ninguém admite. Estamos perdendo essa guerra para o tráfico e a corrupção das instituições. 

Melhor é tratar de política e crimes de colarinho branco. E continuar acreditando que as excelências que povoam o Congresso nada têm a ver com as facções que se espalham pelo país feito erva daninha. O avanço e o enraizamento da violência são nítidos, da ocupação do narcotráfico nas regiões para além do eixo Rio-São Paulo-Minas.

Marcos Vinicius, naquele dia, acordou atrasado, mas insistiu que queria ir à escola. Saiu de casa de uniforme e com sua mochila nas costas. Quando percebeu que estava no meio de um tiroteio, tentou voltar, não conseguiu e a cem metros de casa foi atingido. No mesmo instante, seus colegas buscavam se proteger no interior das salas de aula. Em outras escolas das redondezas, a cena se repetia.

Este é também um evento mundial. Apesar disso, ninguém está defendendo sua pátria, e sim seus próprios interesses, e a qualquer custo. Às vezes, tem-se a impressão de que as jogadas inteligentes são da parte dos bandidos, que os passes não estão assim tão alinhados entre as instituições que deveriam nos proteger. 

Quem deveria estar bem aparelhado para vencer a batalha, na verdade, reclama recursos materiais e verba. Há anos se fala de violência, aumento do tráfico de drogas no Rio de Janeiro e no resto do país. Parece que, depois dos primeiros gols, ficamos acuados esperando as organizações criminosas completarem o serviço e dizerem com quem está a bola.

A bola vai continuar rolando, teremos as oitavas, as quartas, semifinal, final e conheceremos o campeão. A Copa tem data para acabar; a guerra no Brasil, não.

* Crônica que nasceu no módulo Escritas do Cotidiano, dentro do Curso de Formação de Escritores, da Prefeitura de Santos. 

Comentários