A cura (Escritas do Cotidiano # 3)


José Carlos Pinheiro*

Tudo começou bem na hora matinal de ontem, quando não gostei do atendimento médico da doutora. Ela veio examinar minha mãe que se queixava de dor de garganta e mais parecia uma pastora, pois estava mais preocupada em me consolar do que examinar a minha mãe.

Eu disse a ela que alguma coisa incomodava a boca da minha mãe. A resposta: tudo dói e mais ainda quando passa comida pela na garganta. A médica me pediu uma colher para examinar a boca, mas de jeito nenhum minha mãe conseguiu abri-la.

— Por fora, vejo que não há nada na garganta e pessoas de idade são assim mesmo. Quando cismam de não abrir a boca, não abrem mesmo, disse a médica.

Tudo ficou por isso mesmo. Ela indicou um remédio, que ainda não fui buscar, para pingar 20 gotas na boca. Mais nada. À noite, quando minha mãe estava quase dormindo, tive uma intuição: será que não é a dentadura dela que pode estar machucando a boca?

Logo cedo, às cinco horas, quando a levei para fazer xixi, tomei a decisão de abrir a boca dela. Era justamente ali que estava o problema, pois a dentadura dela estava machucando e sangrando a gengiva.

Com muito custo, tirei a dentadura e limpei toda a boca. Em seguida, fiz um saboroso mingau de maizena e, para minha alegria e a dela, não sobrou uma gota no prato. Levei-a para cama e dormiu a tarde toda como um anjo, pois durante as noites passadas tinha dormido muito mal.

Que coisa a vida: toda intuição deve ser observada, pois pode ser o primeiro caminho para uma grande solução. Como bem diz o SUS: o tempo e a intuição são os melhores remédios para a cura.

* Este texto foi produzido durante o módulo Escritas do Cotidiano, dentro do curso de Formação de Escritores, da Prefeitura de Santos. 

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