Um aniversário argentino, chinês, japonês e mexicano ... (Conversas com Beth # 25)

Um aniversário de 35 anos, globalizado para o século XXI
Marcus Vinicius Batista

Você chegou aos 35 anos. Adotamos, sem querer, a filosofia do meu pai. Não exatamente estender o prazo de validade a cada seis meses, como ele diz após os exames médicos de praxe, mas compreender que os seis últimos meses foram bem melhores que os anteriores. Foi, talvez, o único rastro de contabilidade sobre o passado recente, quebrando a tradição que parece inerente às comemorações.

Abraçamos também a ideia de que aniversário não é alarde, muito menos balanço regado à melancolia ou nostalgia. Pensamos, sem combinar, que seu aniversário de 35 anos poderia ser celebrado em doses homeopáticas e com simplicidade reconhecida. Quase um fingimento de dia normal, exceto pelos detalhes, esses que significam prazer e alegria.

Neste texto de tantos "nãos" até agora, não esperávamos que o dia seria único, digno de data redonda. Pela manhã, sua rotina bissemanal de tai chi chuan e cama de ceragem, para reforçar a musculatura, endireitar as costas, fazer exercícios, mais almoço pela dieta, conforme as recomendações médicas.

Resolvi te buscar de surpresa e cheguei com uma enxaqueca em andamento. Vamos brincar de colocar as costas no lugar? Concordei em experimentar a cama, enquanto ignorava a cabeça com uma granada dentro. Minhas costas pareciam novas, mas a máquina jogava minha cabeça para trás, o que me punha em rota de colisão com a vontade de vomitar. A dor de cabeça vencia por goleada a massagem pesada nas costas tortas.

Saí da cama e, cinco minutos depois, testemunhava o milagre da globalização. Conheci Jorge Raul, argentino radicado no Brasil, especialista em Medicina Chinesa e casado com uma brasileira descendente de japoneses. A história, em si, é o mosaico deste país, mas será contada em breve. Agora, o milagre argentino-chinês.

Jorge fez uma anamnese cirúrgica. Conectou, com meia dúzia de perguntas, todos os sintomas dos últimos cinco dias, matou o diagnóstico de stress e, com uma picada na orelha esquerda, baixou a pressão em dois pontos em dez minutos. Nocauteou a enxaqueca que crescia em progressão aritmética. E ainda me deu uma aula primorosa sobre a medicina oriental. 






Saímos de lá (você, descansada; eu, com outra cabeça), pegamos seus exames e fomos para a segunda fase do dia de aniversário. A consulta médica era esperada há 15 dias e fatalmente resultaria em mais um remédio na bancada da cozinha de casa, o caçula do Éramos (e somos) Seis (pílulas diferentes).

Depois que nos despedimos, fui almoçar perto do consultório. Antes da primeira garfada, o celular tocou: a consulta havia terminado. Breve, tranquila e mais rápida do que o previsto. O remédio veio, mas em menor dosagem do que nossos temores. Uma consulta de 15 minutos, o menor dos males médicos na conjuntura atual, graças às informações prévias de outra profissional.

Entre as surpresas e um dos presentes, o trabalho no meio, concluído dentro do planejado, sem sobressaltos. Daí, jantar. O restaurante mexicano Guadalupe era um desejo para a noite de 35 anos. Não o visitava há uma década. Para você, estreia.

O garçom - coitado, vai trabalhar no Dia dos Namorados, dia do próprio aniversário - era a educação em pessoa. Ele acertou em todas as dicas do cardápio. Comemos na quantidade certa. O ambiente, agradável. E ainda ganhamos um mojito porque era seu aniversário. O melhor que já tomamos, na dose certa para a dupla-cliente Vip da indústria farmacêutica, em várias dosagens e nomes genéricos.

Tivemos o aniversário de 35 anos que você não esperava ter. Sei que gostou muito, não apenas pela conversa, pelos sorrisos, pela cumplicidade deste dia. Mas pela surpresa que aterrissou depois da viagem ao México. O melhor presente latino que o marido da aniversariante poderia ganhar ...

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