The Sunset: um restaurante pra viajar


Marcus Vinicius Batista

Frequentar um endereço não faz dele nossa casa. Nem a presença constante, que pode camuflar certas obrigações, comodidades ou só relacionamento profissional protocolar. O único critério que nos aproxima de um estabelecimento é a relação com as pessoas, sempre em nível horizontal.

Na semana passada, eu e meus filhos Vini e Mari entramos no Restaurante The Sunset para almoçar. Eram quase cinco horas da tarde, nada proposital com o pôr do sol deste inverno pra justificar o nome em inglês da casa.

Ocupamos a única mesa do restaurante, encravado em um sobrado entre uma farmácia e um antiquário na avenida Epitácio Pessoa, a uns dez metros da esquina com a rua Alexandre Martins, na Aparecida. É ali pertinho do shopping Praiamar.

Logo que sentamos, Caio - um dos garçons - me perguntou: "O de sempre?" Respondi que sim, o filé de frango à parmegiana, com arroz integral, fritas e feijão, que como uma duas vezes por semana. A bebida? Também igual. Uma garrafa de Coca-Cola, 600 ml, e copos com gelo e limão.

Vini, do meu lado, levantou o dedo indicador da mão direita e disse: "Eu também quero o de sempre!" Caio me olhou e Thaís, a estudante de Química que também trabalha por lá, respondeu: "Espaguete à bolonhesa". Vini tinha visitado o restaurante pela última vez no Carnaval, no início de fevereiro, mas ela se lembrava do que ele gosta de comer.

The Sunset já foi duas pizzarias, a na telha e a quadrada, também na telha. Redescobrimos o lugar há uns dois anos, dica de uma amiga psicóloga. As recomendações terapêutico-gastronômicas: boa comida, em quantidade ideal, preço justo e atendimento excelente. O coquetel de remédios que qualquer consumidor deseja para curar a fome.

O restaurante antes abria à noite. Num sábado, sem querer pensar muito no que comer, eu e Beth entramos no The Sunset e comemos a melhor porção de batata frita, coberta com cheddar e bacon, no tamanho para um time de futebol de salão. Atualmente, Beth se contenta com a tigela de açaí, rica em frutas e adocicada.

The Sunset aposta nos pratos individuais e na culinária de eficiência internacional. De filé acebolado à lasanha, do salmão ao molho de maracujá ao filé de frango grelhado, fora os parmegianas, bacalhau e o fricassé de frango, o preferido de Beth. A entrada, uma salada ou tabule, mais a sobremesa - entre mousses e creme de natas -, estão incluídas no preço da refeição, que gira em torno de R$ 20.

O ambiente de dois andares é praiano. Na entrada, um aquário de um metro de diâmetro. Nas paredes, a decoração de verão, com esculturas. Em duas delas, os tijolos vazados que um dia ainda terei em minha sala. A escada de acesso ao andar de cima é toda em madeira, como os sobrados antigos da cidade, inclusive a casa da minha avó.

A trilha sonora do The Sunset oscila entre reggae e surf music e, nas TVs, o Canal OFF (de esportes radicais) me faz sonhar com os esportes que admiro, mas não pratico.

O termômetro está no ponto. O restaurante vive cheio de terça a domingo, mas no sábado fica lotado entre duas e quatro da tarde. É preciso paciência, enquanto a cozinha e os garçons se desdobram para a demanda.

The Sunset não entrega em casa, o que - de certa forma - nos tira da preguiça e nos obriga a caminhar até lá. Ótima justificativa para conversar e ouvir o sotaque da portuguesa Sônia, tão raro no bairro onde moro e na minha família. E, no pacote de informalidade, tem o filho da Sônia, Gustavo, sempre de tablet na mão e parceiro do Vini nos jogos de Minecraft.

The Sunset é de cozinha internacional, mas - para mim - são viagens a dois países: a Jamaica na música e o de sempre, o filé de frango à parmegiana. Mentira. O creme de natas é Portugal de sobremesa. Mas são os brasileiros - e a portuguesa - que nos garantem estar em casa para o almoço.

Obs.: Texto publicado, originalmente, no site Juicy Santos, em 28 de junho de 2016. 

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