A loira da faculdade





Caíque Stiva*

Conheci uma loira na faculdade. Ela foi amarga comigo no começo, mas com o tempo passei a gostar dela. Esse gosto passou a crescer a cada dia, até que eu percebi que era amor.

Antes mesmo de ingressar no ensino superior, alguns amigos que já a conheciam me alertavam sobre sua capacidade de seduzir um homem. Chegavam a dizer coisas do tipo:

‘’É amor à primeira vista.’’ ou até mesmo ‘’Ela faz o seu tipo. ’’

Achei um exagero e, a princípio, não dei bola, mas aquilo sempre me vinha em mente. Eu pensava se um dia iria realmente gostar dela, em como seria minha vida com ela presente em quase todos os momentos e o que minha família pensaria dessa relação.

Ainda em tempos de escola, comecei a pesquisar sobre ela, ou como costumamos dizer hoje em dia, ‘’estalqueá-la’’. Descobri muitas coisas sobre sua vida com ajuda da internet e me dei conta de que a loira tinha um ‘’tipo’’ bem comum. Seu corpo cheio de curvas e seu suor chamava (e ainda chama) muito a atenção dos rapazes que frequentam a faculdade.

Em fevereiro desse ano, chegou o primeiro dia de aula. Era o dia do trote e eu estava nervoso, pois sabia que naquele dia voltaria mais cedo pra casa e consequentemente estaria careca e fedendo, ou seja, sem chances de conhecê-la.

O trote em si foi até que leve. Cortaram meu cabelo, jogaram todos os tipos de comida na minha cabeça – e no corpo todo também –, mas eu estava contente com a conquista de ter entrado na tão temida faculdade. Minha única preocupação era tomar o ônibus naquele estado, mas foi tranquilo, pois eu não era o único sujo no lotado 934EX das 23 horas.

Mas, se eu voltaria mais cedo, por que eu peguei o ônibus às 23 horas?

Quis o destino que, naquele dia 2 de fevereiro de 2015, eu finalmente conhecesse a famosa loira da faculdade, que não saia dos meus pensamentos há meses.

Nosso primeiro contato foi através de um veterano do meu curso que tinha uma grande afinidade com ela. Ele me chamou logo após o trote e disse:

‘’Bicho, tem alguém que eu quero que você conheça.‘’

Entrei em estado de choque, pois eu não queria que ela me visse naquela situação, e logo tentei recusar:

‘’Não, cara, olha meu estado. Não dá para ir até lá assim.‘’

Após alguns minutos de conversa, ele finalmente me convenceu. O encontro foi no Bico Doce, o barzinho que fica bem ao lado da faculdade, lugar onde me tornei freguês assíduo. Porém, só o frequento após as aulas, porque a faculdade é cara e não dá para ficar faltando e jogando dinheiro fora.

Chegando ao bar, lá estava ela, do jeitinho que me havia sido descrita. Loira, corpo curvilíneo e suado.

Estendi minha suja e fedorenta mão - que nem o sabonete do banheiro da universidade foi capaz de limpar -, agarrei-a e levei até minha boca. Que CERVEJA deliciosa. Foi com certeza amor à primeira vista. O primeiro copo de cerveja, logo após um dia cheio de nervosismo, foi apaixonante.

Não foi a primeira vez que bebi cerveja na vida, mas foi com certeza a mais especial, era a tão falada cerveja da faculdade, e melhor ainda porque foi de graça. Meu amigo veterano foi quem pagou aquela garrafa.

Começava ali uma história de amor que já dura há meses e, com moderação, vai durar uma vida.


Obs.: Texto que nasceu do curso "Como escrever crônicas", ministrado na Universidade Católica de Santos. 

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