Isabella Narcizo*
Eu realmente tenho de saber as histórias de papel higiênico
Da real política da terra de Santa Cruz
Tenho de ler cada palavra suja e sangrenta
De terras não muito distantes
Daqui
Tenho de analisar as retas dos gráficos
Diagramas de Venn
E uma gama de intempéries estatísticas
Que gritam:
És burra e és cega
- Concordo.
Sou burra e cega pelas mãos de vós
E Pelas mãos de vós minha voz se enrouquece
De pavor da ignorância
"Você sabia?"
Não, eu não sabia.
"Você já leu?"
Não, eu não li.
Tudo o que eu podia eu fiz
Não sujei o mundo
Não violei pessoas
Nem fiz cara feia
Disse as palavras mágicas
E distribui sorrisos e flores
Vocês sabiam? Não?
Vocês fizeram? Não?
Vive-se o cortiço e vive-se
Urinetown
Respira-se mijo e mija-se óleo
Enquanto na bolsalândia
Come-se gente
"Fulano de tal e fulano de til
Investigados por x
Ainda em andamento
Processo parado devido a"
"Cicrano de tal morto em
Tiro perdido
Fogo
Lista e passo-a-passo da mais nova dieta detox"
"Casamento de Bil e Bal
Término de Xiu e Xau
Nascimento de
Atraso nas entregas
Juros correção monetária preço do pastel
Novo processo aberto"
- Vão pra porra
Nas lousas
Um alimento pobre
Nos prédios e bares, gente
Vazia em todos os lugares.
(O céu sabe do chacoalho do chão
O mar sabe do galope do vento
E tudo avisa: pelo amor de vós, parem
Mas céu e mar e chão e vento sobreviverão
Para assistir cada reta e diagrama
Nos engolirem por inteiro
E nem darem a descarga)
* Embora seja um poema, este texto nasceu a partir do curso "Como escrever crônicas", ministrado na Universidade Católica de Santos (UNISANTOS), em maio deste ano. Isabella é estudante de Letras.
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