O truque do braço




Maria Carolina Ramos

Garotas orgulhosas da sua beleza, realçada pelos vestidos e pela maquiagem impecável, sorriam para a foto feita com um celular. As que estavam na ponta do grupo pousavam a mão suavemente na cintura, formando uma charmosa letra V com o braço e o antebraço.

O salão de festa escolhido para comemorar a conquista dos formandos estava cheio e, lá, no outro canto, mais um grupo se formava para fazer mais fotos digitais. Dessa vez, com diferentes meninos e meninas que, no entanto, mantinham posição de braço igual a das amigas.

Posar assim deixa a silhueta esbelta e elegante porque a coluna fica mais ereta e o antebraço, firme. É um recurso bem-vindo para deixar o registro elogiável. Afinal, uma foto tem lembranças.

Mas quem guarda suas fotos hoje em dia? Aquelas produzidas por profissionais nas cerimônias de formatura, casamento e batizado talvez sejam uma exceção e ganhem formato impresso e um álbum bonito.

De forma geral, as imagens são produzidas com os celulares e publicadas em alguma mídia social. São as selfie-service: “consuma-me nesta foto instantânea em apenas dois segundos. Esse é o tempo que você deterá a atenção em mim, antes de passar para o próximo prato rápido” é a legenda nas entrelinhas.


Podemos deixar de prestar atenção na vida e só fazer esforço para sair bem na foto. É como os turistas que, em Paris, ficam durante alguns minutos em frente à Torre Eiffel, tempo suficiente apenas para fazer algumas fotos, e depois seguem adiante para outro ponto turístico, para fazer mais fotos. Eles não sobem até o último andar da torre e assim, não apreciam a vista da cidade. 

Da mesma forma, meninas e meninos podem não curtir a festa porque sua maior preocupação é fazer a melhor pose para a foto. E para a outra...e para a outra...

Obs.: 18º texto que nasceu do curso "Como escrever crônicas". 

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