As viajantes, os humoristas e outras gentes


Tamiris Vieira*

O despertador toca às 7 horas. Eu me levanto da cama, me arrumo e saio para trabalhar. Fico por volta de 40 minutos no ponto de ônibus porque eu nunca consigo pegar o “bendito” a tempo.

Depois do trabalho, vou para faculdade pensando que ficarei mais 30 minutos no ponto, e mais 30 dentro do ônibus. Começo a lamentar. À noite, eu saio da faculdade e lá se vai mais uma hora e meia perdida.

Final de semana chegando, quanta alegria, só mesmo em pensamento, pois a realidade continua com idas e voltas de cursos e a mesma quantidade de horas perdidas em um ponto de ônibus.

Ô mania a minha de dramatizar, certo?

– Não!

Esses dias, eu me peguei pensando nas amizades e inimizades que foram feitas enquanto esperava um ônibus e a diversidade de pessoas que conheci nestas horas de paralisia. Um local que pode ter de um homem engravatado a um de bermudão. Da patricinha com o seu salto 15 centímetros à roqueira de cabelo pink. De uma pessoa muito dócil e legal àquela mala sem alça. Do cantor ao ator, do estudante de medicina ao atendente de telemarketing. Pessoas com vidas e universos diferentes bem ali do seu lado.


É também um local das conversas paralelas. Você acaba por dentro de qual foi a morte do dia, que a Xuxa foi para a Record, que o Lula manipula a Dilma, que o PSDB é bom e o PT é mau – assunto do momento. Todo mundo politizado!

Você ainda pode saber da vida alheia - o que aconteceu na intimidade de fulano e beltrano. Isso tudo detalhado e sem conhecer a pessoa. Parentes e amigos estão aqui para isso.

É também um lugar de muitos risos. Tem aquela senhora que começa falar dos netos, da mulher que pergunta as horas e depois começa narrar sua história de vida, do bêbado que quer socializar e começa a falar e cantar em inglês.

Há os piadistas que somos obrigados a aturar e soltamos um sorriso para não deixá-los constrangidos, as rixas que começam para ver quem entrará no ônibus primeiro para sentar, tem os mal-humorados que reclamam do atraso, do motorista, do horário, do tempo, da vida.

Um dia desses conheci duas senhoras que só queriam passear pela cidade, não tinham um destino certo, adoravam fazer amizades. Elas são as viajantes.

Já conheci um senhor que perdeu toda a família, do outro que trabalhava para o Santos Futebol Clube na época do Pelé, da outra que viveu na época da Ditadura e é contra a Dilma.

Unindo os prós e contras, uma coisa é fato: vivo uma relação de amor e ódio com a minha rotina e o “ponto de ônibus”.

Obs.: 10º texto da série que nasceu do curso "Como escrever crônicas". 

Comentários