Avó não é mãe duas vezes




Zuleica Maria O.A. Batista*


Não tenho nenhum dilema com isso, mas passei a maior parte da vida pensando como seria minha convivência com meus netos. Ser mãe é uma profunda experiência, chega ao limite máximo da dor. Agora, ser avó é um novo roteiro que a vida nos coloca à frente, é outro papel a desempenhar.

Minhas reações e sentimentos se transformaram com a chegada de meus netos, Mariana e Vinícius, em datas diferentes, claro. Para cada chegada, em momentos diferentes da vida, foi uma nova experiência, e meu coração estalava de felicidade como um pão de queijo ao forno, (termo bem mineiro). E fui verdadeira em ambas as ocasiões.

Dentro das possibilidades que me dão, sou uma avó que procuro participar ativamente. Permito-me estar próximo deles o máximo que posso. Brinco, canto, danço e rolo no chão com eles. Não sei contar histórias, o que me salva são os livros que leio com roteiros que nos carregam para além da imaginação. Estou sempre inventando algo diferente, - uma “bagucinha”. Divertimos-nos muito e isso me dá sentido e identidade. 

Quero que meus netos se lembrem de mim nessa descontração bem infantilizada. O importante é nos divertirmos e nos conhecermos. Identificação é algo muito pessoal, quase impossível de acontecer simultaneamente. Tem que haver uma conquista. Ofereço a eles os instrumentos necessários para que possam ter boas lembranças minhas. E gostaria que, quando adultos, possamos ser amigos – se eu não estiver senil, claro.

Se me preocupo em oferecer o melhor para meus netos, acho que está no DNA – pois minha mãe fez história juntos aos netos, meus filhos. Espelho-me nela e tento passar essas características que provavelmente me marcou geneticamente. 

Quando olho para trás, para meus 66 anos transcorridos da minha vida, posso vê-la como um filme se repetindo. Como uma continuidade. Talvez o lado mais hereditário de passar de geração para geração.

Adoro e curto meus netos com muita diversão e intensidade também. Eles fazem rir meu coração e não tenho dúvidas que os amo de paixão, mas também tenho certeza que não quero abrir mão da minha liberdade e assumir responsabilidades que devem ser assumidas por "mãe" e "pai" adultos, saudáveis e vivos!

Mesmo tomando conta de meus netos de vez em quando, compartilho da opinião que filhos devem ser criados pelos pais e que avós não devem passar de coadjuvantes.

Por isso, estou convencida de que avó não é mãe duas vezes.

03/07/2011

Obs.: Esta é a primeira de uma série de crônicas escritas por minha mãe, falecida em julho de 2013. São textos produzidos por razões múltiplas, de uma atividade na Universidade Aberta da Terceira Idade, onde ela estudou por dois anos e meio, a um acontecimento cotidiano que a marcou. Agradeço também a meu pai, José dos Ramos, pela organização do material e por concordar que estas crônicas merecem ser compartilhadas. É, acima de tudo, uma forma singela de homenageá-la. Saudades!

Comentários

Fernando Rossi disse…
É isso que faz de você um ser humano especial... fico feliz em poder admira-lo. Parabéns, pela mãe, pai e filhos.
Boa tarde, MARCUS!
A crônica emocionou-me. Na sinceridade dela, a alma sensível que a inspirava para amar.
Admiro também, em você, essa sua beleza de espírito, algo assim como um eco de beleza igual à da Zuleica. Que ela esteja bem nos braços do Pai!...
Seu tio avô:
Mozar Costa de Oliveira