Ostentar o título de
pré-candidato a prefeito é tão ilusório quanto crer que as promessas de
campanha serão cumpridas à risca. Os candidatos já colocaram o bloco na rua há
meses, montaram escritórios, contrataram os especialistas, costuraram as
alianças. Mas é preciso manter a compostura para não despertar a atenção da
senhora de olhos vendados do Poder Judiciário.
Os prefeituráveis não apenas gastam sola de sapatos nas
ruas ou calejam os dedos de tanto apertar as mãos dos novos amigos de campanha.
Qualquer candidato que se preze montou um exército. Uma tropa virtual de
amigos, contratados e simpatizantes para curtir, compartilhar e propagar todos
os passos de quem pretende cercar o eleitor de todos os lados.
As redes sociais ficaram entupidas de fotos de missa, visitas
a eventos culturais, participação em debates, todo tipo de estratégia para
manter o candidato em evidência. Sem institucionalizar a campanha, é claro. Amigos
virtuais fazem o serviço, com a artificial boa intenção, de reproduzir as
mensagens, como um favor altruísta de quem reza por uma causa maior.
A ironia é que muitos dos políticos ainda não entenderam
como as redes sociais funcionam. Patinam quando apostam no controle absoluto
das mensagens. Mas balançam de verdade quando não compreendem que as redes
sociais são capazes de aglutinar pessoas interessadas em fiscalizar o que os
(pré)candidatos fazem em campanha ou no poder.
Um dos alvos das redes é o deputado federal Beto Mansur.
Se quiser aumentar suas chances de chegar ao Paço Municipal, além do papel de
visitante ilustre, Mansur precisa considerar as redes sociais como mecanismos de
protestos e de indignação. Mais do que isso, como um instrumento que espalha
informações como rastilho de pólvora e que mantém vivo e pulsante, tanto o
passado remoto como o pretérito recente do candidato.
A decisão de votar contra o Projeto de Emenda Constitucional
(PEC) do Trabalho Escravo (438/2001) colocou o pré-candidato do PP na vitrine
virtual. A lista de deputados votantes
se espalhou mais rápido pelo Facebook do que boato político na Câmara dos
Deputados. Beto Mansur foi um dos 29 parlamentares que votaram contra a PEC,
que prevê confisco de terras de fazendeiros que adotassem o trabalho escravo e
a destinação da área para reforma agrária ou ao uso social urbano. Felizmente,
a PEC foi aprovada com 360 votos.
A Internet, neste sentido, é voraz para remexer nos
esqueletos escondidos no armário. Não há trancas e cadeados que segurem os
recursos de compartilhamento de um Facebook, por exemplo. É inútil acusar
adversários de uso político. A informação corre pelo eleitorado, moralmente
indignado, ainda que irritadiço de ocasião.
No caso de Mansur, rapidamente circularam as lembranças
sobre o processo que o deputado federal enfrenta no Superior Tribunal Federal
(STF) pelas denúncias de trabalho escravo em uma de suas fazendas, em Goiás. O
local foi alvo de fiscalização do Ministério do Trabalho há oito anos, menos de
um mês antes da eleição de João Paulo Tavares Papa.
O incêndio virtual não representa, evidentemente, o único
fator que decide uma eleição. Mas funciona, ao menos de forma indireta, como
variável nas pesquisas eleitorais. E, no quesito mais importante delas, o
deputado não caminha bem. Os índices de rejeição giram em torno de 30%,
percentual comprometedor para o sonho do segundo turno.
Controlar a realidade da política no mundo virtual implica em procurar por alternativas de comunicação, que visem ultrapassar a imagem de bom moço que todos os candidatos desejam construir até outubro. As redes sociais estão além da exposição frívola da vida privada. Neste universo, a futilidade se transforma rapidamente em incêndio. Basta um clique no botão Compartilhar.
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