O que esperar do Corinthians?



O ex-jogador Tostão, melhor texto do jornalismo impresso no país, escreveu que o Corinthians é o time brasileiro que mais se assemelha ao futebol europeu. E acrescentou que o clube possui um dos melhores elencos do Brasil. Concordo com as posições do mestre, mas penso que é necessário refletir sobre alguns pontos para se evitar as generalizações inerentes às paixões pelo futebol ou aos diálogos professorais de balcão de padaria.

O Corinthians se parece com um time europeu na organização tática. Como o comercial de shampoo, parece, mas não é. O time não se aproxima da eficiência do Barcelona, claro, tampouco tem o elenco do Chelsea, para aqueles que resumem o futebol inglês à retranca.

Tite encontrou um jeito de jogar, independentemente da final com o Boca Juniors, conforme as peças que se encontravam à mão, com as limitações de um clube que representa, de fato, a entressafra atual do futebol brasileiro. Defender-se sempre é o lema de quem não foi contemplado com a criatividade.  

O time paulista é o que melhor se defende na atualidade. Ao contrário do que blefam dirigentes adversários, o Corinthians não possui nenhum jogador selecionável na defesa. Paulinho, talvez, se descartarmos algumas opções na Europa, como Ramires e Hernandes. Mas o mesmo argumento vale, por exemplo, para Arouca, do Santos.

A defesa é experiente e funciona bem pelo conjunto da obra. Todos são obedientes como peões do tabuleiro e parecem ter consciência de que dependem uns dos outros para a própria sobrevivência. Até porque nunca foram destaques em outros clubes de ponta.

A defesa parece ter ficado melhor com a troca de goleiro. É cedo para apostar fichas em Cássio, mas ele tem se mostrado bem mais seguro do que Julio Cesar. Até a torcida o acolheu com mais rapidez do que de costume. O saldo é que o Corinthians levou somente três gols em 12 partidas.

Mesmo com a defesa consistente, confesso que ver o time jogar é um exercício contínuo de ansiedade. Temo que a obsessão em não levar gols se transforme em freio de mão quando a barreira for quebrada. E que o time não reaja a tempo numa partida decisiva, embora tenha provado em várias ocasiões ser capaz de manter a serenidade quando está atrás no placar.

O Corinthians marca mais à frente do que quase todos os adversários. As três linhas de marcação, que começam com os jogadores de frente, atravancam o meio-campo e reduzem as chances de criação adversária. Neymar que o diga nas duas partidas pela Libertadores. Sempre dois ou três a sufocá-lo. O atacante do Santos teve que abandonar, em certos momentos, o lado esquerdo para respirar e criar.

O problema é que o Corinthians não possui outra maneira de se apresentar, inclusive porque não possui material humano para a versatilidade. Os meias são bons jogadores, mas caem na vala comum do momento atual no Brasil. Danilo é excelente para execução tática, ótimo para prender a bola quando o resultado é favorável, mas não pode se esperar dele arroubos de genialidade. Ele é o símbolo do time atual justamente por conta da regularidade.

Alex, por sua vez, entendeu que sangrar pelo grupo é a forma para mantê-lo entre os titulares. Atua de maneira parecida com Danilo, mas atraindo o jogo para o lado direito, com a diferença de que colabora nas bolas paradas.

Daí para frente, o Corinthians perde a grandeza. Os atacantes são comuns; a maioria deveria jogar em times de porte médio. Liédson poderia ser a exceção, mas as lesões o limitaram em termos físicos. Não se pode contar com ele todo o tempo.

Com este quadro, é possível remexer o óbvio e dizer que o Corinthians vai engrossar com o Boca Juniors. Fechar-se na defesa, apostar em contra-ataques e comemorar um empate na Argentina. Se isso acontecer, o torcedor deve rezar por uma vitória magra no Pacaembu. É o que pode se esperar do Corinthians, um time operário às últimas consequências. 

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