O novo técnico da seleção


O presidente da CBF, José Maria Marin, disse que seu coração não suporta mais sobressaltos. Ele afirmou que a decisão foi tomada de maneira intempestiva, unilateral, sem consultar assessores, comentaristas ou cartolas de clubes e dirigentes de federações.

O telefone do rei, em Miami, também não tocou. Marin arcaria com a medida kamikaze solitariamente. Marin aproveitou a tristeza alheia e contratou Pep Guardiola como técnico da seleção brasileira.

O ex-técnico do Barcelona ficou duas horas sem trabalho. Salários acertados em contrato verbal. Pep pode deixar a função quando desejar e a CBF, demiti-lo quando quiser.

O dirigente brasileiro estava insatisfeito com a gestão de Mano Menezes. Não apenas pelos resultados ruins contra os adversários de primeira linha, mas também pela queda no ranking, o fracasso na Copa América, as convocações estranhas de jogadores ligados a empresários, a indefinição de um time-base, a falsa separação entre as seleções olímpica e principal, apenas para iniciar a lista de queixas.

Marin, na verdade, preferia Marcelo Bielsa, técnico do Atlético de Bilbao. Mas El Loco segue firme na revolução basca. O time dele disputará a final da Liga Europa, fora a provável renovação de contrato. Ele prefere Bielsa porque entende que é o único capaz de restaurar, de curto prazo, o balé artístico sepultado pelo jogo pragmático de ligações diretas e cruzamentos sem objetividade.

Independentemente de frustrações, o presidente da CBF pretende dar um choque de realidade no time brasileiro com Pep Guardiola. Não há o desejo na cúpula em reproduzir literalmente o jeito Barcelona de jogar. Seria ingenuidade copiar o modelo de um contexto alternativo.

Na visão dos dirigentes, há material para tanto, embora seja necessário reconvocar Kaká e Robinho e, principalmente, dispensar Ronaldinho Gaúcho e jogadores da Ucrânia.

A Confederação pretende, com Guardiola, se aproximar de referenciais táticos mais sólidos, ainda que necessitem de adaptação. Pouco importa, disse Marin, se haverá controle obsessivo pela posse de bola e se não tempo para entrosamento.

A CBF tem a intenção de acalmar os anseios por um esquema reconhecível, que possa ser entendido até pela dona-de-casa que não sabe o que significa impedimento. Ou, pelo menos, que seja possível reconhecer a maioria dos jogadores quando estiverem enfileirados para cantar o Hino Nacional.

A decisão de desligar Mano Menezes do comando da seleção foi divulgada no mesmo dia. Ainda não se sabe o que deverá acontecer com o ex-treinador, mas Carlos Leite – empresário dele – explicou que há sondagens de vários clubes da primeira divisão, inclusive de São Paulo. O acerto deve acontecer até o feriado de 1º de maio, pois o Campeonato Brasileiro começa na segunda metade do mês. Outra possibilidade é a queda do Corinthians na Libertadores e o caminho aberto com a saída de Tite. 

Guardiola é esperado no Brasil na próxima semana. Ainda não se sabe quais mudanças serão implementadas nem quando haverá convocação. Em entrevista à imprensa espanhola, o ex-técnico do Barcelona explicou que Kaká não merece o purgatório, que Neymar não tem idade para carregar o time nas costas e que, essencialmente, é fundamental perder o medo de ganhar.

Ele reconheceu parte da responsabilidade pelos fracassos recentes do Barcelona, mas repeliu a ideia de time imbatível. “Isso é coisa de vocês, jornalistas e comentaristas.”

O mais importante é que Guardiola não se coloca na pele de salvador da pátria. Ele reconhece que o técnico pouco interfere na dinâmica de um time durante a partida. “Técnico resolve jogo somente nos 15 minutos do intervalo. Mas as chances são pequenas porque a montagem da equipe se dá no treinamento cotidiano.”

Pep Guardiola não prometeu títulos ou vitórias. Sequer tem garantias de que chegará à Copa do Mundo. Apenas se comprometeu a construir um time, mesmo que seja herdado por outro nome às vésperas do Mundial.

Construir um time representa, entre outros pontos, coerência nas convocações, sem atletas de melhores momentos ou craques de final de semana. “Não há mais tempo para experiências. Tenho que chamar os melhores e honrar uma das escolas que me ensinaram a ser um técnico preocupado em estudar e muito o futebol.”


Obs.: Para acordar os desavisados, este texto é baseado em fatos ficcionais. 

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