Um time equilibrado

Ganhar o Campeonato Brasileiro não fornece ao Corinthians o cargo de melhor time do país na atualidade. Talvez seja o mais equilibrado, aquele que consegue se adaptar melhor ao modo de jogar predominante por aqui e extrair com eficiência de seus jogadores a disciplina de grupo, além de mascarar a pobreza técnica que permeia o futebol brasileiro, salvo as exceções desgastadas pela repetição.

O time campeão de 2011 lembra outro grupo corintiano que venceu o Brasileirão, mas não deixou um rastro de troféus. As semelhanças entre a equipe de hoje e o elenco de 1990 estão mais vivas na qualidade individual dos jogadores, basicamente atletas medianos que vestiram a camisa no auge de suas carreiras, e no espírito de um time que fez jus literalmente à esta palavra.

A grande diferença, porém, está desenhada no mesmo aspecto. O time de 1990, que derrotou o São Paulo por 1 a 0, gol de Tupãzinho, tinha goleiro em nível de seleção brasileira. Ronaldo foi titular por uma década e só não foi convocado mais vezes em parte pelo temperamento explosivo, em parte porque nasceu na geração errada. Como concorrer com Taffarel e Zetti, por exemplo?



Tupãzinho - ontem e hoje
Julio Cesar foi o menos vazado da edição deste ano, mas isso se deve mais à solidez defensiva do que às qualidades do goleiro. O clube e parte da torcida não confiam nele. Tanto que o Corinthians contratou Renan, revelação do Avaí, e especula sobre Cassio, ex-Grêmio e seleção sub-20.

A maior distinção reside, no entanto, na camisa 10. O ano de 1990 foi o ápice da carreira de Neto, um dos maiores meias dos últimos 20 anos em terras brasileiras. A camisa 10 atual está órfã, ocupada de maneira transitória como símbolo. Danilo sobrevive à custa de instabilidade, mesma sina de Alex, que poderia ocupar o espaço. Quem diria que Douglas, hoje no Grêmio, deixaria saudades? Na verdade, Adriano poderia ser o “diferente”, mas jogou o ano – e provavelmente a carreira - na caixa de areia.

No restante, os dois times eram a síntese de uma engrenagem bem lubrificada. Sem outros destaques, as duas equipes mantinham defesas sólidas, protegidas por volantes que mordiam até a exaustão. O time atual é mais rico no setor, com Paulinho e Ralf entre os melhores da posição. Em 1990, Marcio carregava o piano e possuía como auxiliar Wilson Mano, o coringa-operário daquele grupo.


Corinthians - 1990

O restante do meio-campo não era memorável, principalmente entre os meias. O time de 1990 dependia de Neto. O de hoje se equilibra no revezamento de vários nomes e na chegada dos volantes ao ataque. Paulinho marcou oito gols no torneio, mas - em breve - deverá voar para a Europa.

O ataque era o ponto frágil de ambas as equipes. Poucos gols, poucas possibilidades de artilharia. A exceção é que o time atual possui Liédson, que esteve machucado em parte da temporada. Mesmo assim, marcou 12 gols. Em 1990, Tupãzinho e Fabinho tiveram seu ponto máximo com o título nacional. Não prosperaram em outras bandas. E Viola ainda iniciava a carreira.

Outra semelhança ocupava o banco de reservas. Tite e Nelsinho Baptista eram técnicos em busca do convite para integrar a elite nacional da categoria. O desejo é figurar nas listas de sucessão do técnico da seleção nacional.

Nelsinho Baptista, nestes últimos 20 anos, ganhou vários campeonatos, mas nunca fez parte da ala vip. Hoje, está no Japão na disputa do Mundial interclubes. Tite, que havia vencido vários estaduais, depende do próximo passo: continuar ganhando em clubes de ponta. A Libertadores é a chance de ouro, mas depende de mudanças no elenco atual.

O time de 1990 teve o mérito de abrir a porta. Faturar o primeiro campeonato durante um período de entressafra do futebol brasileiro. Ídolos em final de carreira, revelações queimando etapas de desenvolvimento, seleção brasileira com a credibilidade em dúvida. Daí em diante, o cenário paulista ficou nas mãos do São Paulo, que levou o Mundial duas vezes, e do Palmeiras-Parmalat. Ambos ajudaram a compor a seleção brasileira campeã do mundo em 1994.



Brasileiro/2011 - Vitória de 2 a 1 sobre o Grêmio
O Corinthians de 2012 precisa dobrar a curva para não repetir o desfecho da biografia de 1990. Com o elenco atual, são pequenas as chances de assassinar as brincadeiras alheias sobre o deserto de conquistas além das fronteiras nacionais. O ano de 2011 deu vários sinais para o futebol local. Apenas o Santos teve excelente desempenho. Na Copa Sul-americana, apenas o Vasco alcançou as semifinais. Os demais brasileiros caíram nas fases iniciais.

O próprio Corinthians amenizou, de certa forma, o vexame da pré-Libertadores. Terá a oportunidade de enterrar o fantasma. Mas é fundamental enterrar também parte do grupo que conquistou o Campeonato Brasileiro, com sofrimento, na última rodada, sob o risco de reviver o Tolima com outras cores de camisa.

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