Juninho, o discreto

Ao ligar a TV no último domingo, esperava assistir ao clássico entre Palmeiras e Corinthians. Partida em Presidente Prudente, critério perfeito para a transmissão. De saída, me senti lesado ao ver imagens do Rio de Janeiro, do clássico entre Flamengo e Vasco.

Entediado, optei por continuar com a TV ligada. Daquele jogo, poderia sair alguma jogada diferenciada. Mais fruto da memória do futebol carioca como jogo cadenciado e artístico do que confiança no nível atual do campeonato brasileiro.

A partida terminou 0 a 0, o técnico Ricardo Gomes acabou internado, mas a cereja do bolo foi acompanhar Juninho Pernambucano em campo. Sempre tive admiração pelo meia, hoje com 36 anos. Jeito clássico de atuar, ele desfila de cabeça erguida, com consciência de que o campo possui atalhos anti-correria.

Juninho é um atleta sério, com elevado profissionalismo, exceção em tempos de crianças mimadas com agendas de estrelas do rock, seres mais próximos da imortalidade. Mesmo longe da Europa, Juninho carrega o cetro real na França. Sete vezes campeão francês, foi um dos responsáveis por colocar o Lyon no mapa das competições européias, o que contrastava com a entressafra na seleção francesa.



Ao retornar o Brasil, o jogador ganhou mais créditos quando aceitou jogar pelo time do coração, o Vasco, pelo salário de R$ 600. Um pouco mais do que um salário mínimo. Juninho queria provar que, aos 36, poderia jogar no mesmo nível dos demais colegas de clube, sem privilégios ou exibições esporádicas para a torcida e imprensa. E sem lesar os cofres alheios.

Juninho poderia servir de exemplo para outros tipos de monarcas ou jogadores “fabulosos”, que voltam ao Brasil em péssimas condições físicas ou machucados e sangram as finanças dos clubes de São Paulo sem entrar em campo.

Mesmo rico pelos anos na Europa, o meia do Vasco merecia aumento de vencimentos. O jogador era o único capaz de mudar os semblantes da defesa e do goleiro do Flamengo. Colocava medo no adversário. Juninho é o melhor batedor de faltas do país, superior – inclusive – ao volante Marcos Assunção (Palmeiras) e ao goleiro Rogério Ceni.

No clássico contra o Flamengo, Juninho teve três chances. Ficava nítida a preocupação excessiva dos homens da barreira. O goleiro Felipe tentava armar a proteção de modo diferente, com mais gente e com maior abertura além da trave-base. Na primeira cobrança, a bola passou a centímetros do gol. Felipe se manteve imóvel. Tirou a bola com os olhos, como diz o clichê.


Na segunda tentativa, a bola atingiu a trave direita do goleiro, que saltou para a fotografia. A última, assim como a primeira cobrança, também foi para fora. O fato é que, em todas as situações, o gol do Vasco nunca esteve tão perto.

Seria injusto afirmar que o meia do Vasco se limita a bater faltas. Sequer justificaria este texto. As três cabeçadas defendidas por Felipe partiram de escanteios batidos por Juninho. O efeito faz com que a bola saia da pequena área, o que deixa os zagueiros adversários de costas para os atacantes e o goleiro impossibilitado de cortar o cruzamento.

Além de transformar cada bola parada em apreensão para o Flamengo, Juninho reinava entre as duas intermediárias. Todas as jogadas do Vasco passam por ele. Muitas vezes, ele buscava a bola perto da grande área de defesa para ditar o ritmo da equipe.

Juninho jogou por 80 minutos. E correu como um garoto com a metade da idade. Não possui, evidentemente, a velocidade de antes, mas cresceu em precisão (erra poucos passes) e verticalidade. Raramente partem dele toques laterais, prática tão disseminada entre os meio-campistas brasileiros.

É uma pena que o meia esteja em vias da aposentadoria. Deve jogar, no máximo, mais uma temporada. Juninho foi uma daqueles jogadores injustiçados na seleção brasileira. Participou apenas de uma Copa do Mundo, como reserva. Caladão, discreto, nunca integrou as turminhas de carteado ou soltou fogos de artifício para jornalistas puxa-sacos.


Com o império da visibilidade empresarial, em que jogadores “ucranianos” de segunda linha – por exemplo - freqüentam as listas de convocações, Juninho Pernambucano bem que poderia ter tido mais oportunidades na seleção brasileira. Bastava que técnicos convocassem por critérios técnicos, sem pensar em vitrine nos principais centros da Europa. Ou se abandonassem a obsessão por volantes que apenas destroem as jogadas e mal sabem o que fazer quando a bola queima em seus pés.

Juninho Pernambucano, Alex e tantos outros serão lembrados e idolatrados por torcedores específicos de clubes. Ao olhar para o futebol carioca, o tédio é imediatamente substituído pela admiração. Admiração que precisa sufocar o lamento de quem terei poucas oportunidades de testemunhar o meia do Vasco ensinar como se arma um time; mais do que isso, como se joga futebol sem robotização ou força bruta.

Comentários

Anônimo disse…
Para mim,juninho é o meu maior ídolo do futebol,joga tranquilo sem briga,sem querer aparecer,simplismente fantástico.