(...) A delicadeza não é causa de nossa humanidade, é efeito dela. Não é meio, é finalidade. O homem não é necessariamente delicado - daí a urgência de se preservar, na vida social, as condições para a vigência de alguma delicadeza.
Erramos ao chamar os atos que nos repugnam de desumanos. O homem, não o animal, usa de violência contra seu semelhante. O homem inventou o prazer da crueldade: o animal só mata para sobreviver. O homem destrói o que ama - pessoas, coisas, lugares, lembranças. Se perguntarem a um homem por que razão ele se permitiu abusar de seu semelhante indefeso, ele dirá: eu fiz porque nada me impediu de fazer. O abuso da força é um gozo ao qual poucos renunciam.
Além disso, o homem é capaz de indiferença, esta forma silenciosa e obscena de brutalidade. O homem atropela o que é mais frágil que ele - por pressa, avidez, sofreguidão, rivalidade -, sem perceber que com isso atropela também a si mesmo.
As palavras acima foram escritas pela psicanalista MARIA RITA KEHL. São o início de Delicadeza, texto publicado no livro A CONDIÇÃO HUMANA, organizado por Adauto Novaes. É um olhar tão profundo quanto rico sobre o ser humano.
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Muito bom!