As lições do Santos

O Santos é o melhor time de todos os tempos da última semana, parafraseando Os Titãs. Com o perdão do exagero, o clube monopoliza a atenção de quem gosta de futebol, principalmente pelo equilíbrio que sustenta a harmonia entre defesa, meio-campo e ataque. Apenas o Cruzeiro – talvez - consiga desempenho semelhante no momento, no país.  
O Santos não é uma equipe imbatível tampouco próxima daquela que demolia adversários no primeiro semestre de 2010. Mas o time de hoje tem algo a ensinar aos colegas grandes de São Paulo.
Gostaria de me concentrar em dois ensinamentos e partir das duas finais contra o Corinthians. O Santos atuou, nos dois jogos, três jogadores formados no próprio clube. O goleiro Rafael e o atacante Neymar mais o meia Alan Patrick jogaram no último domingo. Na primeira partida, havia Ganso.
O Corinthians teve dois atletas: o goleiro Julio Cesar e o atacante Dentinho, de saída do clube. O goleiro será o último dos moicanos a atuar com regularidade no Campeonato Brasileiro.
As finais apenas indicam o que ocorre com os grandes de São Paulo há dois anos, no mínimo. Enquanto o Santos mantém uma fábrica de jogadores, os adversários investem sucessivamente em medalhões ou em jogadores de segunda linha. Às vezes, acertam a mão como se colassem a lista de reforços a um bilhete de loteria.
O Corinthians, por exemplo, não tem – entre titulares e reservas – atletas que foram campeões da Copa São Paulo em 2009. Jogadores como Boquita e Dodô foram pouco utilizados e logo emprestados. O Palmeiras se notabilizou por formar goleiros. Nas demais posições, o clube estagnou. Vive de contratações de custo baixo ou reata relacionamentos com ídolos que não tiveram sucesso no exterior. Valdívia e Kléber?
O São Paulo abusa da bipolaridade na formação do time. Começa a temporada com a apresentação de vários reforços, muitos enxergando o auge da carreira pelo retrovisor. Ao longo do ano, começa a dispensá-los e colocar jovens sem a fase de maturação. Entre os dispensados, Marcelinho Paraíba e Cleber Santana. Fernandão mal joga. Rivaldo fez 12 partidas e marcou apenas uma vez. Ambos terão vida longa no clube?
Lucas e Casemiro são exceções. Os demais jovens acabam emprestados sem uma sequência de jogos. Quando entram, é para encarar a má fase do clube.
Enquanto isso, o Santos consegue manter um banco de reservas recheados de promessas em todos os setores da equipe. Há zagueiros como Vinicius, laterais como Alexsandro, meias como Felipe Anderson, todos entrando com cautela no time principal. Isso sem falar nos que se foram, de Andre, que chegou à seleção, à Breitner, em Santa Catarina.
Outra lição que o Santos aparentemente aprendeu é não desfigurar um time durante um campeonato. É claro que o time – diante de uma série de fatores, que transitam da fragilidade econômica do país à ganância particular – poderá ser desmontado em um mês. Até agora, perdeu apenas coadjuvantes como Zé Eduardo e Maikon Leite, que podem ser substituídos por gente da casa ou revelações do interior. Os dois se encaixam nesta segunda condição.
O Corinthians pagou o preço do comportamento oposto. Durante os cinco primeiros meses do ano, negociou Roberto Carlos e Jucilei, além de assistir à aposentadoria de Ronaldo. As peças não foram repostas à altura, com exceção da chegada de Liédson. Gastou uma fortuna em Adriano, que só poderá jogar no segundo semestre. Estaria em forma e concentrado caso não se machucasse?  
O clube também se desfez de Bruno Cesar e Dentinho, ambos titulares, apesar das oscilações. Elias e Christian também foram embora no meio do caminho. Ralf, Paulinho e Ramirez não apagaram os antecessores da memória coletiva.
A colheita de uma geração de jogadores nos campos da Vila Belmiro não é exclusividade desta gestão. É a fusão das duas administrações, que se reflete na conquista de vários títulos nas categorias de base na última década. O problema é que o clube fatiou inúmeros jogadores com empresários, o que sempre compromete as finanças. O último caso problemática envolveu Jean Chera, do sub-17. É uma jogada de risco que o clube parece disposto a aplicar.
O Corinthians dá sinais de que pretende se mexer e modificar a relação entre o time profissional e as equipes de formação de atletas. A contratação do técnico Narciso, co-responsável por avanços do Santos na área, é um sinal de que a luz amarela incomoda os dirigentes corintianos.
Se o quadro não mudar logo, o Santos continuará desfilando com Neymars, Robinhos, Gansos e Diegos, enquanto os adversários torram dinheiro em profissionais próximos da linha de chegada. Não será preciso consultar cartas ou videntes para adivinhar em qual endereço as taças vão se concentrar nas próximas temporadas.

Comentários

Marcelo Rayel disse…
Não são só os grandes de São Paulo que estão nessa de não ouvir as bases. Há anos o Atlético/MG não prestigia seus pratas da casa e se mostra um clube com medo da renovação principalmente porque é sequestrado pelo ideal de raça que habita o inconsciente da coletividade atleticana. Ou seja, torna-se sempre um franco favorito ao rebaixamento em quase todo Brasileirão que disputa. Se não tomar cuidado, não vai sair disso. O pior disso tudo é que outros clubes brasileiros estão nessa mesma tendência, exceto o Internacional. Se bem que o clube gaúcho é bom em revelar atacantes, mas fraco na revelação de um grande meia como é o caso do Diego e do Paulo Henrique Ganso. Se o modelo santista não for imitado por outros clubes, o século XXI aponta para uma hegemonia vinda da Vila Belmiro.
Anônimo disse…
Oi professor você esqueceu do Adriano, do Santos, que também foi formado nas categorias de base do peixe. E o Fernandão já deixou o São Paulo também.

O texto está muito bom. Santos = Barcelona?
É verdade. Acabei me esquecendo do Adriano. Peço desculpas pela falha. Se o Santos é igual ao Barcelona?? A distância é enorme entre os dois. Infelizmente, para todo o futebol brasileiro. Grande abraço!!!
Anônimo disse…
concordo com tudo o que disse em seu artigo.Acho que se todos seguissem o exemplo do Santos,o futebol brasileiro é que ganharia de forma geral.