Não sejamos arrogantes! Perder para a Holanda é absolutamente normal. Ou melhor, os holandeses nos venceram. Sempre foram favoritos ao título. Estavam em qualquer lista que se preze, da roda de boteco aos analistas mais competentes. Basta observar o contexto adequado do futebol de hoje.
O que incomoda é que a derrota se construiu por meio daquilo que tínhamos de mais eficiente. Perdemos pela ausência temporária das qualidades do time brasileiro.
A Holanda não explorou nossas deficiências. Jogou como sempre, no tom coletivo que marca o jeito laranja de disputar uma partida. Os holandeses entendem o futebol como um conjunto de características, sem o brilho eterno ou fugaz de uma ou duas estrelas. È um time que atua da mesma forma e é eficiente pela previsibilidade, pela repetição.
A seleção holandesa é inventiva a partir daquilo que se espera dela. Marcação forte no meio-campo, Robben (foto abaixo) caindo pela direita e fechando pelo meio, Sneijder na organização das ligações entre o meio e o ataque, atacantes que se movem para puxar os zagueiros fora da grande área.

A Holanda não pode ser brilhante, mas ainda assim é competitiva e sabia dos nossos problemas. O que talvez não esperassem é que venceriam a partir de nossos melhores pontos.
A derrota nasce a partir de uma conjunção de fatores. É um conjunto de variáveis que desenha e finaliza o resultado marcado no placar. Não perdemos apenas porque Felipe Melo foi expulso. Perdemos também porque Felipe Melo foi expulso, como toda equipe que se desequilibra ao jogar sem um atleta.
Julio César é um dos melhores goleiros do planeta. O ufanismo o coloca como melhor a partir de critérios meramente subjetivos. Julio César transpirava segurança. Fomos longe muitas vezes por causa do muro com luvas. Mas comunicou-se mal com Felipe Melo e os holandeses marcaram o primeiro gol.

Lucio e Juan são uma das melhores duplas de zaga do mundo. Seguros e experientes, ambos conhecem os meandros de uma Copa do Mundo. São técnicos, não apelam para a violência. Tem como uma das principais virtudes as bolas aéreas. Lucio é um líder nato. Juan, uma eminência parda. Tomamos dois gols de cabeça, um deles de um meia de altura mediana.
A principal qualidade da seleção brasileira, nas palavras dos atletas, comissão técnica e adversários, é o espírito de grupo, o senso aguçado de coletividade. O Brasil jamais foi dependente de uma estrela, de um astro que precisava decidir sempre para que vencêssemos.
O segundo tempo contra Holanda representou a morte do coletivo, inclusive antes da virada no placar. O time brasileiro passou a depender de iniciativas individuais, que resultaram no desligamento entre os setores da equipe. Os atacantes estavam isolados dos meias, que mantinham distância dos volantes. Em vários momentos, os zagueiros e os volantes ganharam a função adicional de criar as jogadas. Com a queda de qualidade, caiu também a eficiência na armação.
O Brasil, ao longo dos últimos três anos, se fortaleceu em termos emocionais. Ganhamos da Argentina em Buenos Aires, vencemos os uruguaios em Montevidéu, derrotamos Portugal por goleada, além da Itália, sem falar dos oponentes de segundo escalão. O time nunca fugiu do pau. Suportou firme as críticas, a execração pública, a desconfiança que relativiza os resultados para confirmar teses impregnadas de subjetividade. Era, na média, o time mais velho do Mundial. Não eram jogadores obsoletos; pelo contrário, com cicatrizes de muitas batalhas.
O segundo tempo contra a Holanda levou o Brasil a parecer um time de garotos estreantes. Um gol dos holandeses colocou a equipe em estado de tensão permanente, refletida em erros elementares de passe e posicionamento. Isso sem falar nas faltas mais violentas.
Trocamos a maturidade pela angústia. Abdicamos da serenidade pela ansiedade. A seleção estava desgovernada minutos antes deste comportamento normalmente crescer quando se fala de decisões de campeonato.
Agora, prepare-se – leitor – para uma avalanche de críticas, muitas delas pontuais, sem conexão com o jogo em si. Birras vão aflorar, ofensas servirão de instrumentos para as vinganças pessoais. O técnico Dunga – sempre vítima de preconceito e da confusão entre o jogador e o treinador – será crucificado e provavelmente perderá o cargo. Ele foi mais longe do que CBF esperava. O transitório que virou permanente, com méritos e convicções, sem ser agradável e sorridente como os oportunistas carnavalescos exigem.

Dunga não fez nada de mágico ou diferente. Ele foi o treinador que se esperava dele, em termos de postura. Não confunda com o excelente volante que foi. Quando perdemos em 2006, a imprensa em peso reclamou da farra. Pediram um sargento. O gênio da lâmpada apenas atendeu o desejo.
Os bajuladores pouparão a macropolítica da Confederação Brasileira de Futebol, assim como fecharam os olhos para a próxima Copa do Mundo, aqui no Brasil. Um Mundial sem tijolos, ferros e concreto; ainda no papel, ainda nos conchavos e nos flertes dos engravatados e seus bolsos cheios de notas verdes.
Culpar a seleção atual pelos males do futebol nacional é aquilo que os cartolas mais desejam. Quando se desvia o assunto, as mãos dos dirigentes agem de forma frenética, nas sombras. E aí também se faz uma derrota, não pela qualidade, mas pelo promíscuo e pelo nocivo.
O que incomoda é que a derrota se construiu por meio daquilo que tínhamos de mais eficiente. Perdemos pela ausência temporária das qualidades do time brasileiro.
A Holanda não explorou nossas deficiências. Jogou como sempre, no tom coletivo que marca o jeito laranja de disputar uma partida. Os holandeses entendem o futebol como um conjunto de características, sem o brilho eterno ou fugaz de uma ou duas estrelas. È um time que atua da mesma forma e é eficiente pela previsibilidade, pela repetição.
A seleção holandesa é inventiva a partir daquilo que se espera dela. Marcação forte no meio-campo, Robben (foto abaixo) caindo pela direita e fechando pelo meio, Sneijder na organização das ligações entre o meio e o ataque, atacantes que se movem para puxar os zagueiros fora da grande área.

A Holanda não pode ser brilhante, mas ainda assim é competitiva e sabia dos nossos problemas. O que talvez não esperassem é que venceriam a partir de nossos melhores pontos.
A derrota nasce a partir de uma conjunção de fatores. É um conjunto de variáveis que desenha e finaliza o resultado marcado no placar. Não perdemos apenas porque Felipe Melo foi expulso. Perdemos também porque Felipe Melo foi expulso, como toda equipe que se desequilibra ao jogar sem um atleta.
Julio César é um dos melhores goleiros do planeta. O ufanismo o coloca como melhor a partir de critérios meramente subjetivos. Julio César transpirava segurança. Fomos longe muitas vezes por causa do muro com luvas. Mas comunicou-se mal com Felipe Melo e os holandeses marcaram o primeiro gol.

Lucio e Juan são uma das melhores duplas de zaga do mundo. Seguros e experientes, ambos conhecem os meandros de uma Copa do Mundo. São técnicos, não apelam para a violência. Tem como uma das principais virtudes as bolas aéreas. Lucio é um líder nato. Juan, uma eminência parda. Tomamos dois gols de cabeça, um deles de um meia de altura mediana.
A principal qualidade da seleção brasileira, nas palavras dos atletas, comissão técnica e adversários, é o espírito de grupo, o senso aguçado de coletividade. O Brasil jamais foi dependente de uma estrela, de um astro que precisava decidir sempre para que vencêssemos.
O segundo tempo contra Holanda representou a morte do coletivo, inclusive antes da virada no placar. O time brasileiro passou a depender de iniciativas individuais, que resultaram no desligamento entre os setores da equipe. Os atacantes estavam isolados dos meias, que mantinham distância dos volantes. Em vários momentos, os zagueiros e os volantes ganharam a função adicional de criar as jogadas. Com a queda de qualidade, caiu também a eficiência na armação.
O Brasil, ao longo dos últimos três anos, se fortaleceu em termos emocionais. Ganhamos da Argentina em Buenos Aires, vencemos os uruguaios em Montevidéu, derrotamos Portugal por goleada, além da Itália, sem falar dos oponentes de segundo escalão. O time nunca fugiu do pau. Suportou firme as críticas, a execração pública, a desconfiança que relativiza os resultados para confirmar teses impregnadas de subjetividade. Era, na média, o time mais velho do Mundial. Não eram jogadores obsoletos; pelo contrário, com cicatrizes de muitas batalhas.
O segundo tempo contra a Holanda levou o Brasil a parecer um time de garotos estreantes. Um gol dos holandeses colocou a equipe em estado de tensão permanente, refletida em erros elementares de passe e posicionamento. Isso sem falar nas faltas mais violentas.
Trocamos a maturidade pela angústia. Abdicamos da serenidade pela ansiedade. A seleção estava desgovernada minutos antes deste comportamento normalmente crescer quando se fala de decisões de campeonato.
Agora, prepare-se – leitor – para uma avalanche de críticas, muitas delas pontuais, sem conexão com o jogo em si. Birras vão aflorar, ofensas servirão de instrumentos para as vinganças pessoais. O técnico Dunga – sempre vítima de preconceito e da confusão entre o jogador e o treinador – será crucificado e provavelmente perderá o cargo. Ele foi mais longe do que CBF esperava. O transitório que virou permanente, com méritos e convicções, sem ser agradável e sorridente como os oportunistas carnavalescos exigem.

Dunga não fez nada de mágico ou diferente. Ele foi o treinador que se esperava dele, em termos de postura. Não confunda com o excelente volante que foi. Quando perdemos em 2006, a imprensa em peso reclamou da farra. Pediram um sargento. O gênio da lâmpada apenas atendeu o desejo.
Os bajuladores pouparão a macropolítica da Confederação Brasileira de Futebol, assim como fecharam os olhos para a próxima Copa do Mundo, aqui no Brasil. Um Mundial sem tijolos, ferros e concreto; ainda no papel, ainda nos conchavos e nos flertes dos engravatados e seus bolsos cheios de notas verdes.
Culpar a seleção atual pelos males do futebol nacional é aquilo que os cartolas mais desejam. Quando se desvia o assunto, as mãos dos dirigentes agem de forma frenética, nas sombras. E aí também se faz uma derrota, não pela qualidade, mas pelo promíscuo e pelo nocivo.
Comentários
Agora teremos a farra da preparação para o mundial da redenção patriota!!!
Empreiteiras e estádios serão construídos, reformados e vão ganhar muita grana!!
A turma das notas verdes cada vez mais rica e dane-se o resto!!!
Resto?
Temos eleição para presidente em Outubro!!!
Temos uma Lei de Ficha LImpa esculhambada por liminares e pareceres!!!
OUtro Legislativo desses?
Vamos cuidar do país!!! Chega de circo!!! Até pq o espetáculo não é bom mesmo!!!
Bola pra frente com um técnico de verdade em 2014!
Haja Coração!!! (Cala a Boca Galvão!)
Fábio - SP
Um Brasil e Holanda em copa do mundo é e possivelmente sempre será um jogo duro. A perda, por qualquer dos lados, não pode ser vista como um fracasso.
Parabéns pela lucidez.
Flávio Ferlini Salles.
teu texto é muito bom, mas o dunga não serve para técnico. ouvir um imbecil como ele falar todas as bobagens pseudo-sociológicas e pseudo-antropológicas (com o beneplácito da mídia, convenhamos) foi insuportável. o time do brasil jogou mal todos os jogos (ok, houve lampejos de bom futebol aqui e acolá, mas nada fenomenal).
o ufanismo não leva ninguém a enxergar corretamente a realidade.
paciência.
Ricardo
Voltemos ao trabalho e cuidemos da vida!
Parabéns pela lucidez.