Os super-heróis, na cultura pop, aborrecem. Na ânsia de atender ao maniqueísmo fácil pela desculpa da compreensão coletiva, os autores os tornam chatos de tão bonzinhos. Os super-heróis são mais do que incorruptíveis. Eles atendem ao politicamente correto, que dita regras e valores e se transforma numa patrulha cultural que beira o autoritarismo. Até as crises de consciência, como a de Peter Parker, em Homem-Aranha 3, infantilizam os personagens.
Como os heróis são lineares e previsíveis, fica para os vilões o papel de divertir e permitir alguma leitura psicológica. Os vilões poderiam ser os espelhos dos heróis e provocar o mesmo efeito da obviedade, mas muitos deles – como o Coringa – fascinam pelo contraditório, pelo cinismo, pela ironia sofisticada. Tais características, que levam a violência irracional do Batman, por exemplo, nos divertem e até nos fazem torcer por eles.
Ontem, assisti ao filme Homem-de-Ferro 2. Ali, vi um herói diferente, demasiado humano e atraente na própria imaturidade.
Tony Stark, o personagem que veste a armadura de metal, é egoísta, obsessivo, narcisista, vaidoso, boêmio, mulherengo e impulsivo. O personagem, interpretado por Robert Downey Jr., é coerente com sua própria condição. O ator, pela biografia, possui histórico de comportamentos típicos do herói da ficção.

Na produção cinematográfica, Tony Stark é o empresário mais poderoso do ramo de armas, numa época em que a indústria bélica representa um dos três maiores segmentos da economia globalizada. A informação não é do roteiro, mas do mapa geopolítico de hoje.
Culto e sofisticado, Stark é preconceituoso e auto-referente como um digno representante da elite econômica e política. Mas protege os amigos, é capaz de generosidade e se preocupa com questões internacionais, embora encene certo tom de alienação. È a pitada do formato americano de entretenimento. Surpresa seria se fosse o inverso.
Na pele do Homem-de-Ferro, Stark funciona como um super-herói mais próximo da realidade de um sujeito que designa o papel a si próprio, sem encará-lo como missão. Ele não nasce herói. Decide ser! Ser um herói significa desfrutar da glória, dos holofotes da mídia, e expor seu poder diante dos comuns. Numa cena do filme, Stark diz a platéia (e às câmeras, ao vivo) que acompanha uma sessão do Senado americano.
- Eu privatizei a paz mundial.
O filme discute – dentro das limitações de um blockbuster – a fome bélica dos Estados Unidos. Stark se recusa a ceder ao governo a armadura, que seria utilizada para assegurar as guerras em curso. O Homem-de-Ferro se encaixa como o soldado perfeito, já que o Capitão América é ironizado em outra cena da história.
Não espere um debate filosófico sobre as razões da guerra. O roteiro é simples, previsível, e serve aos efeitos especiais e às cenas de ação. Cumpre a proposta de entretenimento, sustentada por um personagem pop e um elenco renomado.
Neste ponto, Mickey Rourke – com a carreira ressuscitada – convence como Ivan Vanko (foto abaixo), físico russo em busca de vingança pela morte do pai. Aquela divergência surrada, em que filhos herdam as diferenças dos pais; no caso, todos cientistas. O filme também permite saber um pouco mais das relações entre Tony e seu pai, Howard Stark.

Homem-de-Ferro 2 costura melhor e fortalece a relação do herói com os Vingadores, que deverá fechar a saga destes personagens daqui a dois anos. A história dá mais detalhes sobre a Shield, com a presença de Nick Fury (Samuel Jackson) e da ambígua agente Romanoff (Scarlett Johanson, uma das mulheres mais belas do cinema contemporâneo). Sam Rockwell é o empresário caricato de armas que se alimenta da inveja por Tony Stark. Um vilão megalomaníaco, cheio de maneirismos e aspectos rotulados.
Downey Jr. é o centro do filme. Ele aprimora o Tony debochado e moleque do primeiro Homem-de-Ferro. O personagem brinca com a morte e esconde os próprios medos diante do sarcasmo e da irresponsabilidade. Posa como soberano, mas se enche de temor quando sozinho.
No fundo, ele é um herói pecador, com virtudes e defeitos de um indivíduo – em princípio – normal. De perto, alguém com poder além da compreensão e controle de um único sujeito. Sujeito que cultiva a própria vaidade e erra pela arrogância.

Quantas pessoas você conhece que se deitam com soberba na cama do poder? Quantos correspondem à máxima popular: para conhecer alguém, dê algum poder a ele? Tony Stark se deu o poder e desfrutou dele como um playboy descontrolado, cru na própria coerência.
Uma observação indireta: pela primeira vez, vi um filme sozinho na sala de cinema. Fui à sessão das 12h40. Antes que me considerem um desocupado, aproveitava a hora do almoço. Sentir-se bem ao ver um filme, com exclusividade, numa sala de shopping soa, cinicamente, como uma experiência egocêntrica, digna de Tony Stark.
Como os heróis são lineares e previsíveis, fica para os vilões o papel de divertir e permitir alguma leitura psicológica. Os vilões poderiam ser os espelhos dos heróis e provocar o mesmo efeito da obviedade, mas muitos deles – como o Coringa – fascinam pelo contraditório, pelo cinismo, pela ironia sofisticada. Tais características, que levam a violência irracional do Batman, por exemplo, nos divertem e até nos fazem torcer por eles.
Ontem, assisti ao filme Homem-de-Ferro 2. Ali, vi um herói diferente, demasiado humano e atraente na própria imaturidade.
Tony Stark, o personagem que veste a armadura de metal, é egoísta, obsessivo, narcisista, vaidoso, boêmio, mulherengo e impulsivo. O personagem, interpretado por Robert Downey Jr., é coerente com sua própria condição. O ator, pela biografia, possui histórico de comportamentos típicos do herói da ficção.

Na produção cinematográfica, Tony Stark é o empresário mais poderoso do ramo de armas, numa época em que a indústria bélica representa um dos três maiores segmentos da economia globalizada. A informação não é do roteiro, mas do mapa geopolítico de hoje.
Culto e sofisticado, Stark é preconceituoso e auto-referente como um digno representante da elite econômica e política. Mas protege os amigos, é capaz de generosidade e se preocupa com questões internacionais, embora encene certo tom de alienação. È a pitada do formato americano de entretenimento. Surpresa seria se fosse o inverso.
Na pele do Homem-de-Ferro, Stark funciona como um super-herói mais próximo da realidade de um sujeito que designa o papel a si próprio, sem encará-lo como missão. Ele não nasce herói. Decide ser! Ser um herói significa desfrutar da glória, dos holofotes da mídia, e expor seu poder diante dos comuns. Numa cena do filme, Stark diz a platéia (e às câmeras, ao vivo) que acompanha uma sessão do Senado americano.
- Eu privatizei a paz mundial.
O filme discute – dentro das limitações de um blockbuster – a fome bélica dos Estados Unidos. Stark se recusa a ceder ao governo a armadura, que seria utilizada para assegurar as guerras em curso. O Homem-de-Ferro se encaixa como o soldado perfeito, já que o Capitão América é ironizado em outra cena da história.
Não espere um debate filosófico sobre as razões da guerra. O roteiro é simples, previsível, e serve aos efeitos especiais e às cenas de ação. Cumpre a proposta de entretenimento, sustentada por um personagem pop e um elenco renomado.
Neste ponto, Mickey Rourke – com a carreira ressuscitada – convence como Ivan Vanko (foto abaixo), físico russo em busca de vingança pela morte do pai. Aquela divergência surrada, em que filhos herdam as diferenças dos pais; no caso, todos cientistas. O filme também permite saber um pouco mais das relações entre Tony e seu pai, Howard Stark.

Homem-de-Ferro 2 costura melhor e fortalece a relação do herói com os Vingadores, que deverá fechar a saga destes personagens daqui a dois anos. A história dá mais detalhes sobre a Shield, com a presença de Nick Fury (Samuel Jackson) e da ambígua agente Romanoff (Scarlett Johanson, uma das mulheres mais belas do cinema contemporâneo). Sam Rockwell é o empresário caricato de armas que se alimenta da inveja por Tony Stark. Um vilão megalomaníaco, cheio de maneirismos e aspectos rotulados.
Downey Jr. é o centro do filme. Ele aprimora o Tony debochado e moleque do primeiro Homem-de-Ferro. O personagem brinca com a morte e esconde os próprios medos diante do sarcasmo e da irresponsabilidade. Posa como soberano, mas se enche de temor quando sozinho.
No fundo, ele é um herói pecador, com virtudes e defeitos de um indivíduo – em princípio – normal. De perto, alguém com poder além da compreensão e controle de um único sujeito. Sujeito que cultiva a própria vaidade e erra pela arrogância.

Quantas pessoas você conhece que se deitam com soberba na cama do poder? Quantos correspondem à máxima popular: para conhecer alguém, dê algum poder a ele? Tony Stark se deu o poder e desfrutou dele como um playboy descontrolado, cru na própria coerência.
Uma observação indireta: pela primeira vez, vi um filme sozinho na sala de cinema. Fui à sessão das 12h40. Antes que me considerem um desocupado, aproveitava a hora do almoço. Sentir-se bem ao ver um filme, com exclusividade, numa sala de shopping soa, cinicamente, como uma experiência egocêntrica, digna de Tony Stark.
Comentários
Eu havia me espantado com certas críticas detonando esta continuação... tem crítico que leva filme de ação a sério, fazer o quê, né? É pra curtir mesmo, principalmente quem já gosta de HQ e mais ainda para quem não gosta dos heróis do tipo "escoteiro", como Super-Homem e Capitão América.
Só acho um porre essa visão eterna que os norte-americanos fazem da Rússia, sempre sucateada e detonada, com o personagem do Rourke criando um artefato hi-tech no meio de sucata e garrafas de vodka. Mas é aceitável, pois afinal o herói é americano.
Ah, concordo plenamente que a Scarlett Johanson é uma das mulheres mais belas do cinema contemporâneo, já vale o ingresso, hehehe. E curti a referência com o "demasiado humano", Nietzsche é sempre bem-vindo.
Grande abraço.