O café do centro

Matéria publicada no jornal Boqueirão (Santos/SP), na edição 781, 20 de março de 2010, página 8

Ângela e Roseli são amigas há 20 anos, desde que se conheceram na Prefeitura de Guarulhos, onde são funcionárias. Nos últimos 10 anos, resolveram colocar em prática uma paixão comum: visitar lugares históricos. Na última quarta-feira, em meio às férias do serviço público, as duas decidiram ir ao Museu do Café, motivadas pelo aniversário de 12 anos.

Ambas estavam maravilhadas com o salão do pregão da Bolsa do Café. Observavam, conversavam sobre a imponência do espaço e tiravam fotos. Elas ficaram uma hora dentro do museu. Pouco para alguém como Ângela, que viajou três horas e meia. Roseli, um terço do tempo.



A peregrinação por amor à História: Ângela tomou um ônibus em Guarulhos. Duas horas de sacolejo por causa da marginal e os congestionamentos. Desceu na Rodoviária do Tietê. Mais meia hora de metrô. Encontrou Roseli na Rodoviária do Jabaquara e desceram a serra. Outra hora de ônibus. Lanche rápido e, finalmente, o Museu do Café.

Para a funcionária pública Ângela Edvirges Palitos, a viagem compensa. “Adorei a Santos antiga. Ver o pregão da Bolsa é um ritual.” Roseli Aparecida Cabride visitou o museu pela terceira vez. Ela diz que o museu prova que Santos é mais do que a praia. “A Bolsa é a integração do centro histórico.”

Memória afetiva - O Museu do Café, para comemorar 12 anos, focalizou exatamente essa reação comum aos visitantes: relacionar a Bolsa do Café e o centro histórico, a partir do processo de revitalização dos imóveis, iniciado na década passada. A ideia é a base da exposição “O café no espaço da cidade: 12 anos do Museu do Café e a revitalização do Centro Histórico de Santos”.



A abertura da mostra aconteceu, dia 24. Para a diretora-técnica Clara Versiani, Bolsa do Café e Centro Histórico são e não distintos. Os locais viveram fases diferentes, de degradação e recuperação, mas ambos “representam a relação de memória afetiva da cidade.”

No mezanino, o museu montou uma sala de caráter educativo. No chão, um mapa do centro da cidade, para que o visitante possa localizar o museu e ligá-lo a outras atrações do Centro Histórico. As pessoas poderão assistir a um vídeo de 15 minutos, que mescla uma série de imagens da história do centro e do museu e depoimentos de pessoas que vivenciaram os 12 anos do lugar.



A galeria do piso superior terá também seis totens, com 12 painéis sobre o mesmo tema. São textos, fotos, imagens e gráficos a partir de pesquisa em documentos históricos. No local, serão exibidos relatos de pessoas que trabalham no centro, ligadas ou não à produção cafeeira. Em outro ambiente, no mesmo andar, fotos dos ex-presidentes da Bolsa do Café, divididas em dois grupos. Entre eles, uma moldura-espelho. “A ideia é permitir que as pessoas também se coloquem na galeria”, disse Clara.

Museu aberto - A exposição “O café no espaço da cidade” termina em 20 de junho e representa, para a direção do museu, uma nova fase, iniciada com a transformação da Associação dos Amigos do Museu do Café em Organização Social(OS). A mudança permite – por exemplo - a captação de recursos externos para projetos culturais. “Queremos um museu aberto, de produção de conhecimento, de educação. Não queremos um museu silencioso”, explica Clara Versiani. Segundo ela, os próximos passos serão a implantação de um espaço educativo permanente e, como ponto principal, elaborar novo projeto museológico e museográfico.



Na entrada, perto da cafeteria, há outra exposição, que trata do Dia Internacional de Mulher, celebrado em 8 de março. São 27 fotos, de diversos autores, que registram com poesia a presença feminina no processo produtivo do café. As fotos podem ser vistas até o próximo domingo, dia 28.

Mais três horas - Além do museu, Ângela e Roseli se encantaram com a mostra feminina. Depois, deixaram o museu com pressa. Não queriam perder o último bonde da tarde, para percorrer o centro histórico pela primeira vez, no caso de Ângela. Depois, ao anoitecer, viajariam outras três horas rumo à Guarulhos.

Serviço:
O Museu do Café, que recebe 50 mil visitantes por ano, fica na rua XV de novembro, 95, no Centro de Santos. O horário de funcionamento é de terça a domingo, das 9 às 18 horas. O ingresso custa R$ 5. Professores da rede pública e pessoas acima de 60 anos não pagam. Estudantes pagam meia entrada. Telefone: (13) 3213-1750.

Crédito das fotos: Luiz Nascimento

Observação: Os dois textos abaixo fazem parte da mesma reportagem.

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