
A política anda muito chata. Os engravatados batem boca em plenário, usam palavrões depois de Vossa Excelência e mudam de posição a cada falso alarme contra José Sarney. Não há platéia que suporte mais do mesmo filme, com final previsível e pobre nos argumentos. Um filme que está nas mãos de ferro do diretor (opa, presidente!) ex-metalúrgico.
Marina Silva, ex-ministra e hoje senadora, trouxe um pouco de vida ao debate político. Abriu o leque de teorias, atraiu novas perspectivas para a eleição presidencial. E, como aquecimento, deixou em aberto um monte de dúvidas.
Se for candidata, ela será capaz de abalar - em parte - o ar de plebiscito que caracteriza a próxima campanha? Conseguirá estimular outros nomes a se lançarem na disputa e reduzir a intensidade dos holofotes sobre PSDB e PT?
Marina era fundadora do Partido dos Trabalhadores. Com 30 anos de militância, tem o modo de agir mais idealista, simpático às causas coletivas. Mulher de partido, a chamada “companheira”, no sentido solidário, e não fisiológico do termo. E aí reside o problema. Marina não se encaixava no lulismo e muito menos no petismo atual. Ela virou uma beata marginal, que pregava no deserto depois de uma queimada devastadora.
A senadora pelo Acre era um empecilho para o projeto de governo do presidente. Travava os tais programas de desenvolvimento e levava a culpa pelas trapalhadas burocráticas de outras pastas. Em outras palavras, parecia interessada em fazer política pública com ética (uma utopia?).
Engaiolada pelos colegas, a ministra deu o primeiro passo: saiu do cargo decorativo. Meio ambiente é irrelevante para o modelo vigente. Note-se que, durante a última campanha, nenhum dos candidatos falou em questões ambientais. O assunto não é parte da agenda pública, salvo os enfeites teatrais do palavrório do momento, como sustentabilidade.
Mas Marina devolveu a frustração com estratégia. Anunciou a saída do PT no mesmo dia em que o partido enterrou a cabeça no escândalo Sarney. Na mesma data em que ficou nítido o óbvio: Lula manda prender e soltar dentro do PT. E vendeu a alma da legenda, com a mente em 2010, para várias espécies de coronéis.
Diante da festa apressada dos descontentes, é preciso considerar três pontos. O primeiro é que Marina Silva, mesmo que queira, não será a próxima presidente. Mas ela é a candidata da balança, capaz de tirar votos dos dois lados e servir de referência para determinados grupos eleitorais.
A ex-ministra daria fôlego à temática ambiental na agenda da eleição. É previsível dizer que ela colocaria em xeque o casamento progresso-devastação, idolatrado pelos defensores do desenvolvimento sem limites. O problema é que Marina poderia se transformar em um novo Cristovam Buarque que, na eleição anterior, recebeu o carimbo de candidato de tema único, que só falava de educação.
E o terceiro ponto, fundamental para se sustentar uma corrida presidencial, é o partido e suas alianças. Com Marina no Partido Verde, que diferença a nova casa fará na campanha? O PV não tem força nacional. É um partido nanico, sem maior representatividade, sem tempo de propaganda na televisão. Poderia se coligar com quem, se os cachorros grandes já acertaram as fatias do almoço?

O partido também não é tão verde assim. Puxa um tom de cinza. Como Marina Silva poderia explicar o passado do PV, se mal o conhece? Como justificar as ligações da legenda com gente que, se pudesse, cobriria a Amazônia com concreto ou com plantações de soja?
Marina Silva, por enquanto, é o elefante na loja de cristais. Causa estranheza, provoca arrepios nos donos do lugar, mas se trata de uma reação inicial, de curto prazo. Se ela atender às previsões de 12% nas pesquisas eleitorais, o jogo mudará. A ex-ministra passará a ser a penetra na festa, aquela que entrou sem convite, destoando no figurino e interessada em um pedaço do bolo do aniversariante. É nesse momento que o dono do Buffet, de barba e gravata, estenderá a mão para arrancar o braço. Ou chamará a tropa de choque, tão comum em tempos políticos de retórica demasiado violenta.
Comentários
adorei esse texto.
estou feliz por ter uma candidata que dará a chance a eleitores que ainda votam pensando em convicções e princípios, e não simplesmente para não deixar o voto em branco, por falta de opção.