O quarto dos loucos

Matéria, em versão integral, publicada no jornal Boqueirão (Santos/SP), edição nº 714, de 22 a 28 de novembro de 2008, página 7.

Seis pessoas, cinco delas sentadas, aguardam mais uma seqüência de cenas. O ar denota curiosidade, pois o ambiente faz jus ao nome que recebeu. À direita, um beliche mal cuidado, com uma boneca de pano na parte de cima. A boneca, aliás, veste uma máscara que a envelhece. Um buquê e um vestido de noiva, em trapos, reforçam o clima de um passado doloroso. Cinco espelhos, com uma penteadeira entre eles, facilitam a visão de todos os ângulos do cômodo.

A penteadeira dá sinais dos personagens que ocuparão aquele espaço. Em cima dela, dois objetos. Uma caixa de música, sem a bailarina, virou porta-jóias. À esquerda, um livro entreaberto: “Longa Jornada Noite Adentro”, de Eugene O´Neill. No espelho, a frase escrita com batom: “Quem de mim eu sou?”.

Quando os seis espectadores – capacidade máxima do espaço – relaxam, entra um rapaz de aproximadamente 25 anos. Magérrimo e com cabelos compridos e cavanhaque, ele está nu. Um casal, na faixa dos 55 anos, se remexe nas cadeiras. Os mais jovens esboçam um sorriso amarelo.

O rapaz protagoniza uma das quatro cenas do Quarto dos Loucos, o único ambiente do casarão a ter um nome próprio. Ali, todos os personagens parecem estar de passagem. São fechados em si e conversam com os espectadores como se os ignorassem. É o caso da aeromoça, vítima de um relacionamento violento com o comandante da companhia em que trabalhava. Naquele quarto, os espectadores são os passageiros de um vôo e podem reproduzir as experiências dela numa viagem ao Rio de Janeiro.

Para a diretora Maria Tornatore, o Quarto dos Loucos simboliza o espetáculo. “Falamos dos desvios. É um grande diálogo sobre a moralidade atual.“

O rapaz nu, após embarcar numa viagem de conflitos com a mãe que o abandonou, sai vestido de mulher do Quarto dos Loucos. O público esboça uma conversa, mas uma nova cena – ao som de disco music - se inicia para colocar em risco as definições de normalidade destes espectadores.

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