O recesso e a imagem

Artigo publicado no Diário do Litoral (Santos/SP), em 14 de julho de 2008, pág. 04

A imagem negativa beira a unanimidade. Ser político significa conviver com a associação generalizada aos benefícios excessivos, individualismo com as contas públicas e desmandos nas relações de poder. Em tempos de campanha, muitos candidatos precisam se conectar a profissionais de comunicação com o objetivo de reverter um quadro de desgaste, e não apenas se aproximar de potenciais eleitores com idéias ou propostas.

A crise institucional de imagem é permanente. Com os escândalos sucessivos, qualquer parlamentar se esforça para abandonar – em jogo-de-cena – o espírito de corpo. O que vale, no processo eleitoral, é explorar o caráter individual do voto, as necessidades e interesses pessoais do cidadão que apertará os botões da urna eletrônica. Isso significa desvincular-se da instituição política e criticá-la, se for o caso, de forma moderada, sem dar nome aos bois.

É claro que as corridas para os Poderes Executivo e Legislativo são completamente diferentes. No caso da Câmara Municipal, as propostas são genéricas, com menos ressonância, pois – paradoxalmente – o eleitor faz as escolhas por questões comezinhas, específicas, inclusive por não prestar atenção nos discursos quase idênticos e descarregados de ideologia. As pesquisas mais recentes indicam o óbvio: a esta altura, dois terços estão indecisos em quem votar para o Legislativo.

Neste sentido, projetos polêmicos – e respostas na mesma moeda – reforçam a descrença no processo institucional da política. Por outro lado, fortalecem os parlamentares que conseguirem o distanciamento prudente das farpas resultantes de debates, agressões e declarações risíveis de muitos colegas.

O caso em questão é o projeto de lei da vereadora Cassandra Maroni (PT), que extingue o recesso parlamentar em julho. Atualmente, os vereadores paralisam as atividades duas vezes por ano, neste mês e em janeiro. A proposta, evidentemente, dividiu os vereadores, polarizando oposição e situação.

Na seqüência, os argumentos de ocasião apareceram, muitos deles discutíveis, para adotar uma palavra educada. Um exemplo é que, com o fim do recesso em julho, a Câmara de Santos teria um aumento de gastos. Ora, são 45 dias a mais de trabalho, ou dez sessões. Pense, leitor, se as empresas utilizassem esta lógica torta? Não se trabalha porque despesas serão geradas. A verdade é que poucos desejam, no Legislativo, abrir mão de benefícios, tão interessantes quanto a remuneração. É, literalmente, virar as costas para o eleitor, reiterando a imagem negativa dos parlamentares, em qualquer instância.

Os vereadores fizeram o que sabem ao aplicar as regras do jogo. Duas emendas foram apresentadas e o projeto ganhou caminho mais longo na Comissão de Justiça e Redação da Casa. O recesso começou e talvez ocorram sessões extraordinárias para votação de projetos de interesse do prefeito. O projeto que extingue o recesso, neste tempo, foi enterrado sem pompas ou velório. Na volta das “férias”, a campanha esquentará e qualquer ação – mesmo que anterior à corrida por votos – pode ser rotulada de eleitoreira.

A sorte dos vereadores-candidatos é que o eleitor-padrão ignora o processo político. Ele se mostra alheio – em linhas gerais – e tomará a decisão aos 44 minutos do segundo tempo, diante da pressão social de círculos próximos dele ou do próprio som da urna eletrônica que se aproxima no final da fila na sala de votação. A ausência de fiscalização é o cheque em branco que assegura a separação entre a Câmara Municipal e o mundo lá fora.

Comentários

Aline Monteiro disse…
O que mais me incomoda são as homenagens, títulos e dias do músico, do futebol... Há tão pouco a ser feito mesmo, não é?
Aline, obrigado pela mensagem!! São tantas solenidades e fitas a serem cortadas. Não dá tempo de pensar na cidade.