Meu lugar, 24 horas



Felipe Caldeira*


Todo mundo tem um lugar. O lugar. Aquele. O seu lugar. Seja lá onde for, onde está, dentro ou fora de casa, quem ainda não o encontrou há de encontrar. Um lugar que nunca deixará de ser especial quando dele você lembrar.

O que seria de um dia de gloria sem um cenário encomendado? Sem o lugar adequado? Eu sei que você consegue visualizar algum se tentar... Todos nós temos boas histórias de lugares para contar.

Na minha cidade, a praia de Santos se encaixa exatamente aí. Sete quilômetros. Terreno plano. Clima tropical. E temperatura média de 22ºC anual.

Caiçara que sou, é claro que foi lá que montei o meu escritório. Ou melhor: o meu observatório.

A praia de Santos é um lugar do caralho. Sabendo procurar, podemos encontrar de tudo por lá. Você pode se perder na escuridão à beira-mar depois que os faróis se apagarem. Ou, como de praxe, pode farofar até se cansar. Só não vá esquecer que o lixo também tem o seu lugar. Desculpa se eu moro onde você vem passar suas férias.

De dia, o protetor será necessário. A praia de Santos é um lugar perfeito para você fazer aquela bagunça com a família, sendo pai ou ainda apenas um moleque mimado. Para caminhar sentindo os pés tocando o mar. Pegar uma cor. Se exercitar. Jogar o sagrado futebol de final de semana.

De dia, caia no mar para se refrescar. Pegue uma onda. Caia para pelo menos tentar tirar a zica. Capture fotos bem coloridas. Leve a sua responsa para aprender a andar sem rodinhas. Sinta a brisa.

O pôr do sol é lindo. Vale a pena esperar para sentir na sua retina.

De noite, será necessário se proteger. Se proteger da malandragem. De pessoas que estão em busca de uma oportunidade. Sempre há uns gatos pingados dessa qualidade. E com aqueles-que-não-devem-ser-nomeados, fique ligado. Ainda mais se você estiver tramando algo particular. Eu respeito profundamente os demônios internos de cada ser humano. A velha história do anjo bom e do ruim. O mundo gira assim.

De noite, é hora de azarar. Chamar a rapaziada. Convocar a mina que está no alvo para um rolê descompromissado. Tem lanches caprichados para todos os lados. Aroma de vodca com energético no ar. Aqueles vinhos baratinhos também são famosos. Aqueles traiçoeiros. Recomendo que traga sua caixa de som. Edite aquela playlist para agradar os gregos e os troianos. Deixe alta. Dance. Ninguém vai te criminalizar por rebolar até o chão. Nem achar estranho se de repente aparecer uma guitarra imaginária em suas mãos.

Se você já exagerou na noite anterior mesmo, espere mais um pouco. Coloque um Floyd para acompanhar. Vale a pena esperar para sentir a luz invadindo a sua retina.

Ah, a praia de Santos... Quantas memórias... Quantas histórias...

Ah, a praia de Santos...É bom aproveitar.Sei lá se algum dia ela será tomada pelo mar...Ou se eu serei tomado desse lugar...

* Este texto nasceu do curso "Crônica: o amor pela vida cotidiana", que aconteceu em julho, no Lobo Estúdio, em Santos.

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