Marcus Vinicius Batista
Ao virar no corredor, meia dúzia de alunos já o esperavam. O carnaval morreu ali. Silêncio de velório. Suicídio coletivo ou a morte do exército de um homem só, armado de envelope de provas e caneta para lousa branca? Em vidas alternativas no mesmo prédio, seria giz.
Os seis entraram na sala de aula e os olhares denunciaram: ele chegou! Todos amontoados como se aquele pedaço de sala fosse uma micareta. O que sobrava de sala era terra arrasada, com população zero.
O professor foi taxativo: “gente, vocês já sabem! Fileira sim, fileira não; carteira sim, carteira não”. Na universidade, os testes eram os de sempre, dos anos de Ensino Médio. Vai que o professor deixe que dessa vez a classe vire poleiro humano.
No minuto seguinte, os únicos sons eram os pés em batidas apressadas e o arrastar de mesas e cadeiras. Em menos de um minuto, todos sentados. O professor, com o envelope embaixo de um dos braços, olhou para a sala e fez a pergunta previsível:
— Alguma dúvida, antes da prova?
Um cara lá atrás levanta o braço direito.
— Professor, a prova é em dupla ou individual?
— Em dupla ...
Aquele segundo de choque, mas antes do grito de gol, as reticências se completaram.
— Em dupla, você e seu cérebro.
— É com consulta?
— Você e ele.
— Quem?
— Você e seu cérebro.
Começa a distribuição das provas. Enquanto caminha entre as fileiras, o professor explica:
— São cinco questões. Vocês podem responder na ordem que quiserem, podem rasurar a folha de perguntas, mas todas as respostas devem ser à caneta. A prova vale 10.
Quando faltavam três provas para entregar, uma garota perguntou:
— Fessô, precisa responder ar questões na ordem?
— Não!
Outra voz:
— Prof, as respostas devem ser à caneta?
— Sim.
Provas entregues. O professor encostou na mesa e esperou. Um minuto depois, um rapaz levantou a cabeça e disparou:
— Pro, posso fazer um rascunho na folha de questões?
O professor pensou que as letras de seu ofício desapareceriam a cada pergunta. Ele imaginava o que viria depois do P solitário. Quando esboçou a resposta, foi atropelado por um dos alunos.
— Porra, o cara já disse que pode rasurar. Dá até para desenhar nas questões.
Depois de 15 minutos de prova, um sujeito entrou esbaforido, se desculpou pelo atraso, apanhou a prova e se sentou na cadeira mais próxima. Deixou o estojo cair, desculpou-se novamente, sorriu amarelo e começou a avaliação. Mal escreveu o nome, olhou para o professor e fez sinal para que o professor se aproximasse. Ouviu que bastaria perguntar. Na lata, a dúvida:
— Professor, qual é o nome da matéria mesmo?
— Corte e costura. (gargalhada geral)
Meia hora depois, a primeira aluna terminou a prova. Arrumou a mochila. Levantou-se, entregou a prova e pediu ao professor.
— Prof, corrige com carinho.
Ele sorriu. Ela andou dois passos, deu meia volta e perguntou:
— Prof, para quem não passar, o que cairá no exame?
Muitos levantaram a cabeça, colaborando em silêncio com a maior das dúvidas da noite.
— Lágrimas.
Obs.: Texto escrito em 7 de
julho de 2015 e publicado na revista eletrônica Sanatório Geral. Tema: Fome de
educação
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