A cerveja que nunca deveria ter tomado

Cerveja é sempre cerveja? 
Edwar Fonseca*

Cerveja. Para quem gosta é difícil resistir. Bebida refrescante e inebriante, que nos faz relaxar e pensar sempre no próximo gole.

Cerveja sempre foi minha companheira em festas, churrascos, encontros de amigos, praia, clube, baladas; enfim, qualquer lugar onde se possa descontrair apenas com as tradicionais. Nada de beber cervejas amargas demais ou diferentes.

Não lembro quando comecei a beber. Mas bebi, gostei e não parei mais.

Para mim, cerveja sempre foi cerveja. Amarela pálida, pouco colarinho para ter mais líquido no copo, barata e bebida estupidamente gelada. Vi o garçom servindo na mesa ao lado um copo alto bonito, espuma alta. Eu quero. Bebi, cheirei, degustei. Pensei em pedir outra, mas o preço não permitiu. Mas abriu um portal que eu nem sabia a que mundo iria me levar. Entrei de cabeça!

Nunca me interessei em saber do que, em detalhes, era feita aquela bebida, como era feita, quando foi inventada ou muito menos quem inventou.

Um dia, um amigo me escreveu: “Vai ter um curso para aprender a fazer cerveja, vamos?”. O quê? Claro! Não pensei duas vezes. Era unir o útil ao agradável ou como ser um macaco produtor de bananas. Não via a hora do curso chegar, só pensando em quantas cervejas eu iria fazer, onde iria colocá-las, se iria tomar banho da minha cerveja. 

Produção artesanal de cerveja
Chegou o dia do curso! Um cara formidável, daqueles que você olha e diz: “Esse cara é legal!”. Ele era bonachão, alto, esguio, sem barriga (ué?) e engraçado. Destrinchou abertamente todos os segredos dos ingredientes, estilos, produção, e o que antes para mim era básico e sem muita graça, passou a ser mágica, especial, com cor, com sabor, resultado de uma alquimia de conhecimento.

Nada era sigiloso, muito pelo contrário, conteúdo aberto a quem tiver interesse em ler, estudar e praticar. O que antes do curso era amargo, de paladar ruim se tornou um oásis, ao beber uma cerveja artesanal servida como chope, amarga, vermelha. Era aquilo que eu queria fazer daquele dia em diante.

Nada mais importava do que comprar todo equipamento, os ingredientes e produzir nossa primeira cerveja e, lógico, muitas outras depois dela. Quando a gente ama é pra valer, diz a música. Um hobby é algo que não tem concorrente, fica sempre de fora das economias pré-definidas. O que importa é fazer algo sempre novo, melhorar o equipamento, investir sem fim.

Fabricar, beber ou os dois, eis a questão!
Beber pode virar vício; hobby pode virar vício, hobby de produzir cerveja é vício do vício! Vício de beber menos, mas beber melhor. Vício de estudar. Vício de conhecer mais e mais. Vício de fazer melhores cervejas. Bebo todas que faço. Hoje, se pudesse escolher, nunca teria tomado cerveja sem graça.

Obs.: 7º texto a partir do curso "Como escrever crônicas".


Comentários

orselli disse…
Muito bom, Edwar. Será o começo de uma vida de cronista? Carlos Drummond que se cuide! Abraços.
ed disse…
Show Xará. Parabéns!
Unknown disse…
Excelente Edwar!!! Parabéns!!!