Perca peso, mas não me pergunte como!




Na primeira segunda-feira após as festas de final de ano, tenho certeza que você se sentiu amargurado, arrependido, culpado pela colher a mais de creme de milho, pelo pote extra de sorvete, pelo pedaço maior de tender, chester, peru, todos juntos e misturados no mesmo prato de quem teria trabalhado em construção por 12 horas.

As dores físicas foram curadas com pílulas mágicas ou líquidos em tubinhos coloridos. Mas as dores da alma não passaram. Você prometeu – talvez em público, talvez durante uma foto de si mesmo na rede social – que entraria numa dieta militar a partir de segunda-feira. E aposto que descumpriu a promessa mais rápido do que político quando sabe o resultado das urnas.

Não faço mais promessas de segunda-feira. Não peço mais milagres de réveillon. Mas posso te ajudar. Mais do que fórmulas, trarei exemplos. Resultados. Mudanças de vida. Com 20 anos de experiência no mercado culinário, me tornei especialista em obesidade. Entendo de picanha, pizzas, fast food, sorvetes, refrigerantes, pães, salgadinhos e chocolates.

Como chef de cozinha, sou especialista em brigadeiro. De colher, que exige o artesanato gastronômico. No mundo do sal, meu pai, minha mulher e meus filhos imploram pelo prato principal: duas fatias de presunto, duas de queijo dentro de um pão, que será assado em um tostex curtido 20 anos. É a sofisticação a serviço de uma cultura alimentar exclusiva.

Conheço regimes como poucos. Às vezes, me faço de burro, com cara de magro, quando aparece algum profeta das dietas. Transformo a barriga em ilusão de ótica. Derrubo as falácias do emagrecimento, uma a uma. Dos cogumelos à sopa, das proteínas aos carboidratos presentes na sopa de cogumelos, da alimentação de luz às proteínas das formigas saúvas, das pílulas xixi-o-dia-todo ao detox, flores e esteiras.


Sou mais magro do que há um ano. Estou mais fino do que há dois anos. Sequei mais do que em 2008. Mas jamais vi método tão eficiente quanto aquele que me foi apresentado em julho do ano passado.

Os encontros são mensais para manutenção do regime. Vigilantes não existem. Não há exigência de corte de alimentos ou obrigação de se matricular em academias. Você fica à vontade. Apenas terá os dentes amarrados. A boca continuará aberta, quase como um abobalhado. Quase. Só precisa se policiar como a densidade da comida. Alimentos duros estão proibidos. Duros significam o que você pode aguentar na mastigação. Líquidos estão liberados, sem controle de teor alcoólico.

Outra noite, inventei de seguir a moda Bundchen. Jantei salada. Muita alface. Muita azeitona. O caroço de uma delas quase exigiu atendimento de emergência. Nada que um alicate, não de unha, mas da caixa de ferramentas, não resolvesse. Uma dieta para fortes.

O acompanhamento profissional dura de um ano a três, dependendo do paciente. No meu caso, o vínculo será de 36 meses. Não é financiamento de carro, mas pretendo levar até o fim. É compromisso com a pessoa que me indicou o milagre da perda de peso.

Não preciso tomar chás, shakes, orar para imagens de elefantes (sem ironias), ou me dobrar em esteiras de palha. A balança pode ficar aonde dorme, embaixo da cama. Passo em farmácias e ignoro os números luminosos ao lado da porta, que se multiplicam quando você pisa no medidor de quilos e gorduras. 



As roupas cabem. Aquela camiseta, que ganhei de aniversário e servia de totem das promessas, hoje entrou no esquema usa-lava-usa. Jogo futebol semanalmente. Fazia isso antes, mas ajuda a compor o quadro messiânico.

Uma amiga me perguntou ontem se eu havia emagrecido. E olha que estávamos num aniversário cujo cardápio era pizza. Comi quatro pedaços. E bolo. Tomei óleo negro gasoso. Eu não estava de preto, a vestimenta do auto-engano. A barriga virou miragem.

Não caia na armadilha de procurar esta solução na Internet. A dieta não tem nome ou gurus. Não induz a leituras de autoajuda. Não existem DVDs que te humilham. Jane Fonda não vai te conhecer. Os dias de bullying terminaram. Prometo que não vou te cobrar por estas dicas preciosas.

A dieta me mantém gordo. Mas cada vez menos. Cinco quilos nos últimos seis meses. O aparelho nos dentes não matou meu amor por comer. Mas cortei outro vício: parei de roer as unhas após 34 anos. Descobri o que inchava minhas calorias. Esta dieta é um milagre!

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