A volta do vizinho que não foi

Por Eliana Bonfim*

Seu Barriga. Não, não se trata do personagem do programa do Chaves. Esse é o nome de um de meus antigos vizinhos, ou pelo menos o sobrenome. Na verdade, um apelido tão presente que se entende como extensão do nome.

Não conheço muitos deles onde moro. Não tenho tempo disponível para papear, mas o Senhor Barriga é desses sujeitos que se fazem conhecer. Figura inesquecível que vivia em crise com sua senhora, Dona Amélia. Seria irrelevante, não fosse o fato de que ele adorava ouvir músicas dos mais variados gêneros, em volume um tanto quanto alto, de preferência em horários inoportunos e, detalhe, sempre alcoolizado.

Além de ouvir, se atrevia a cantar também. Sem falar das muitas vezes em que chegava a casa aos berros, vociferando palavras de baixo calão contra a pobre mulher. Ou seja, era um chato.

Depois que sua esposa o deixou, vendeu a casa e, graças a Deus, mudou-se sei lá para onde. Pensava eu que nem mais andava por essas bandas. Qual não foi minha surpresa ao vê-lo dando depoimento no horário político de Bertioga?

Lá estava Barriga, com a barriga redonda, a boca banguela, o português horroroso, sem a sua senhora, sem lenço nem documento. E o pior, apoiando certo candidato que é melhor nem comentar.

Fiquei indignada e percebi que, meu vizinho, que tanto me importunou com suas maluquices, claro-, que perturbou tanto a coitada da Amélia, agora não satisfeito, resolveu trabalhar para incomodar toda a cidade. Confesso que já estou preocupada. Imagino se resolverem colocá-lo num desses carros de som cantando a música do então candidato. Seria o fim da cidade, uma vez que os moradores poderiam tomar a mesma decisão de Dona Amélia.

* Eliana Bonfim é estudante de Jornalismo da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), em Santos.
** Obs.: Este texto foi produzido a partir da oficina "A crônica do dia a dia", ministrada na Unisanta, em 28 de setembro.

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