De quem serão as luvas?



Onze homens e uma sentença: quem?
Os goleiros brasileiros, até a década de 90, costumavam ser contestados quando vestiam a camisa da seleção. A contestação era mais externa do que interna, embora houvesse conivência da crônica esportiva nacional. A avaliação mais comum envolvia, por exemplo, instabilidade e falhas técnicas, como saída de gol em cruzamentos. Na prática, os olhares sobre os goleiros compunham um misto de ignorância, critérios subjetivos e, principalmente, de referências insuficientes.

Costumávamos comparar os goleiros daqui com nossos vizinhos argentinos, uruguaios e paraguaios. Conhecíamos, de fato, a elite de lá; em essência, os que jogavam em suas seleções ou os que faziam sucessos em terras brasileiras. Casos como Cejas, Fillol, Rodolfo Rodrigues e Chilavert.

E olha que sempre tivemos goleiros seguros na seleção. Barbosa, Gilmar, Castilho, Manga, Leão, Carlos, Valdir Peres. Todos cometeram falhas eventuais. Dois deles são lembrados até hoje por isso. Valdir Peres, na estreia contra a União Soviética, em 1982. E Barbosa, já falecido, que dizia ter cumprido uma pena maior do que 30 anos, o limite no Código Penal brasileiro, por conta do Maracanazzo, na final da Copa de 1950.

A partir da década de 90, os goleiros brasileiros mudaram – gradualmente – a opinião generalizada sobre eles. O principal ponto de virada foi Taffarel, o melhor goleiro que vi jogar por aqui. Taffarel desbravou as terras italianas e abriu as portas para outros profissionais. Não jogou em times grandes no exterior, mas colaborou para alterar a percepção sobre estes profissionais, em clara evolução técnica, acentuada pela especialização nos treinamentos.

Atletas nacionais defendem (ou defenderam) as melhores equipes européias nos últimos 10 anos. Julio Cesar, na Inter de Milão; Dida, no rival Milan; Helton, no Porto; Gomes, no Totenham. Até goleiros um degrau abaixo também conseguiram espaço no futebol europeu. Exemplos como Doni, Julio Sérgio e Artur, na Roma; Rubinho, no Genoa; Neto, na Fiorentina; Diego Cavalieri, no Liverpool.

Hoje, a posição parece atravessar uma entressafra. Apresentamos quantidade, mas poucos se sobressaem. Os goleiros mais novos são muito bons, porém falta um jogador em excepcional, de caráter quase unânime. Enquanto isso, os mais antigos se aposentaram ou estão em vias de assinar o papel do INSS.

Voltamos à seleção brasileira. Mesmo com o mercado ainda aberto para os goleiros, o técnico Mano Menezes não consegue definir quem será o titular na próxima Copa do Mundo. Em dois anos, o técnico já utilizou um time inteiro de goleiros. 11 jogadores defenderam a seleção no período.

Nos Jogos Olímpicos, ele levou Rafael, do Santos, que se machucou e está longe de ser absoluto até na Vila Belmiro. Parte da torcida e da imprensa prefere a experiência e regularidade do reserva Aranha. Neto, da Fiorentina, era o reserva nas Olimpíadas e perdeu a posição durante o torneio para Gabriel.

Neto, aliás, também é suplente no clube italiano. Disputou quatro partidas na última temporada, com atuações irregulares. Gabriel, por sua vez, foi comprado pelo Milan sem ter disputado uma única partida pelo profissional do Cruzeiro. Ele ocupou a titularidade na seleção sub-20.

Com exceção da Inglaterra, as principais seleções possuem goleiros com passagem sólida e longeva titularidade. Mas o caso inglês se resume à ocupação das vagas nas grandes e médias equipes por atletas estrangeiros, o que atrapalhou a formação de novos jogadores para a posição.

Fora o treinamento específico, formar um goleiro é diferente das demais posições. O tempo de maturação é mais longo. A maioria assume a camisa 1 nos clubes por volta dos 25 anos. Na seleção brasileira, é comum o reserva ser preparado para assumir a posição uma ou até duas Copas do Mundo depois. Dida e Julio César são exemplos recentes.

Apesar de resistentes em reconhecer, ainda somos dependentes de Julio César. E isso nos coloca diante de uma encruzilhada. Ou torcemos para que ele recupere a boa fase, com a vantagem de que a idade pesa menos para um goleiro. Ou rezamos para que outro nome caia do céu. E que seja visto pelo técnico Mano Menezes.
 

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