A velhice do PT



Até o final do mês, o PT realiza a convenção para a Prefeitura de Santos. Salvo um tsunami político, a deputada estadual Telma de Souza deve sair mais uma vez como candidata ao Poder Executivo. O problema é que, nesta eleição, o cenário se desenha de maneira diferente.
            
Nas três derrotas para a Prefeitura, Telma de Souza percorreu o mesmo caminho. A candidatura dela namorou, noivou e foi abandonada no altar, no segundo turno, pelo eleitorado. Telma sempre foi uma das protagonistas de um processo eleitoral polarizado, bem parecido com Santos e Corinthians.

Telma de Souza representava uma parcela da cidade, quase a metade de uma população, com um olhar preocupado com políticas sociais, por exemplo. Era o contraponto à Santos conservadora, que se encanta com promessas de progresso à la Revolução Industrial, no século XIX.

A diferença é que, nas derrotas, sempre houve esperança real e consistente de vitória. Na disputa com Papa, Telma chegou a ser prefeita até às 20h30 do dia da votação. Papa venceu por 1771 votos, a diferença mais apertada da história de Santos, o símbolo de um município rachado ao meio.

Com exceção do vexame do IBOPE que a elegeu com 10 pontos percentuais de vantagem sobre Papa, as pesquisas eleitorais sempre mostraram Telma de Souza na liderança desde o início da corrida. Os adversários a chamavam de cavalo paraguaio. Prefiro a ponderação de quem a considera um candidato que merece respeito pela coerência histórica.

Na eleição deste ano, o cenário é outro. Não há mais polarização. Há um trio em guerra de foice. Paulo Alexandre Barbosa é o primeiro a parir chances reais de vitória do PSDB, tradicional coadjuvante na cidade. Sergio Aquino, com Papa a seu lado, segue parado nos boxes, mas entrará na pista com o horário eleitoral gratuito. Quando associado ao atual prefeito, os índices de Aquino triplicam nas pesquisas, fora a baixa rejeição, fruto inclusive do desconhecimento da maior parte dos eleitores.

Descontando o deputado federal Beto Mansur, que corre como outsider, Telma de Souza completa a trindade. O problema é que a candidata do PT assiste a Paulo Alexandre disparar nas pesquisas e multiplicar alianças. Somado a isso, Telma cai desde janeiro, em todas as regiões da cidade.

É claro que ainda teremos mais três meses e meio de campanha. O quadro pode se alterar, e Telma passou por esta desagradável experiência em três ocasiões. Desconfio que, por trás disso, também pesa o envelhecimento do PT, não exatamente maturidade. O partido não se renovou nos últimos anos e, quanto mais longe do poder, piores serão as chances de reconquistá-lo.

O Partido dos Trabalhadores, na Baixada Santista, percorreu uma trilha contrária à região da Grande São Paulo. Lá, das 15 maiores cidades, nove são governadas pelo PT. Em algumas delas, as alianças em torno do partido envolvem outras 20 siglas. Parece São Vicente, a cidade sem oposição. É evidente que a Grande São Paulo é o berço do partido; seria quase uma heresia desconsiderar as origens históricas na região da capital.

Aqui, principalmente em Santos e São Vicente, o PT encolheu. Não me refiro a números, mas à força de contestação e à capacidade de incomodar o poder vigente. Em São Vicente, aliás, o PT se incorporou à dinastia do PSB.

Em Santos, o Partido dos Trabalhadores perdeu quadros históricos, seja por aposentadoria de mandato, como Sueli Morgado e Cassandra Maroni, seja por saída da legenda, como Mariângela Duarte. São mulheres que sempre perturbaram os alicerces do grupo que controla a cidade há 16 anos.


No PT, o que permaneceu foi o racha de múltiplas facções. É uma característica histórica da sigla em todo o país. Em Santos, infelizmente, o que era singularidade se transformou em muralha intransponível. Somente o termômetro das urnas indicará, via febre, se a infecção pode ser controlada.  

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