O futebol pede compreensão

Quando nós vamos compreender que ...
1)    o modelo globalizado de negócios em torno do futebol fez com que o Campeonato Brasileiro se transformasse em uma ilusão. Jogar bem por aqui pouco significa em termos internacionais. Atletas em decadência e, ainda por cima, desinteressados são endeusados como se ainda vivessem no auge da forma.
2)    a seleção nacional é armazém de secos e molhados, onde se vende de tudo, com convocações estranhas e partidas sem utilidade prática para a formação de um time. Por que a cada convocação aparece um jogador que atua na Ucrânia? Por que enfrentaremos Gana e Gabão até o final do ano em partidas amistosas?
3)    não possuímos mais craques às pencas, defesa dos ufanistas que julgam o Brasil capaz de formar três times de primeiro nível.
4)    a seleção brasileira vem sendo lembrada por seu goleiro, laterais e zagueiros nos últimos anos. Este talvez seja o maior sintoma de que o estado de coisas precisa ser chacoalhado. O produto tipo exportação mudou e acendeu o sinal de alerta.
5)    a renovação propagada pelo técnico Mano Menezes ofende a inteligência alheia, a partir do momento em que jogadores em final de carreira são convocados por desempenho momentâneo dentro do campeonato nacional. Isso sem falar em atletas convocados uma, duas vezes e, quando negociados com o exterior, somem das listas posteriores.
6)    vivemos um choque de gerações de jogadores, o que implicou na antecipação de etapas para a turma mais nova e que, por isso, corremos o risco de queimar potenciais atletas fora-de-série.
7)    o jogador diferenciado é aquele, como diz Tostão, que atua em alto nível por várias temporadas e que só pode ser chamado de gênio depois do que fez. Hoje, endeusamos o craque da rodada, cientes de que – na maioria dos casos – reviveremos o ar de decepção na semana seguinte.
8)    não temos capacidade de organizar um evento como a Copa do Mundo em função da ausência de planejamento e de um cronograma sério das obras nos estádios de futebol.
9)    a Copa do Mundo dá lucro somente à entidade que a organiza, uma instituição privada que jamais abriu seus cofres para qualquer tipo de auditoria externa. Nenhum dos Mundiais foi lucrativo para os países-sede.
10)  as negociatas em torno do futebol brasileiro e da organização da Copa do Mundo não são prerrogativas do esporte. Surpreender-se com a promiscuidade em torno do dinheiro público representa um ato de cinismo. O futebol apenas serve de termômetro para mensurar as relações político-partidárias no país.
11)  não daremos conta das obras de infra-estrutura para recebermos milhões de pessoas durante um mês. Promoveremos maquiagens de ferro e concreto e depois vamos nos vangloriar da capacidade de improvisação, da suposta criatividade que mascara o desleixo, a negligência. E perderemos mais uma oportunidade de solucionar ou amenizar profundos problemas sociais. O país do futuro que se cristaliza diante do espelho.  
Os 11 itens formam um time completo de dificuldades para que o futebol por aqui se transforme numa atividade profissional. O técnico Telê Santana dizia, com propriedade, que o futebol no Brasil não era coisa para gente séria.
Se conseguirmos entender parte das questões, poderemos perceber que não temos mais o melhor futebol do mundo. Não importa o aspecto, seja técnico, tático ou organizacional. Classificar a seleção brasileira como especial, por exemplo, é, no mínimo, exercício de má fé. Sequer nos colocamos entre os cinco primeiros. E que precisamos mudar de postura para não passar vexame dentro de casa e fora do campo, daqui a três anos.

Comentários

wendell penedo disse…
Eu acredito que a única atitude do tal fanático por futebol é tentar compreender que ele não passa de um idiota, que fica tentando achar emoção e arte dentro de um processo meramente comercial.
O único apaixonado por bola no universo do futebol é o torcedor bobo, que vê os cofres públicos queimando dinheiro em estádios, em amistosos que são grandes falcatruas do Deus Teixeira, enquanto sua realidade entra em colapso justamente por falta de tais recursos.

Enquanto o torcedor decidir ignorar seu papel dentro da sociedade, e ficar agindo como se futebol fosse mais importante que peteca ou bolinha de gude, sofreremos com o descaso das autoridades em relação ao assunto.

Não existe transparência nenhuma nesse negócio, apenas as ilusões pavoneadas na cara dos torcedores pelos MCM.

Até quando esse ópio vai continuar a fazer efeito?
Leandro Marçal disse…
É por essas e outras que hoje a convocação do principal jogador de algumas equipes gera raiva de torcedores, não há mais aquela identificação com a seleção brasileira. Se perguntarem pros torcedores se estão mais preocupados com o desempenho do seu time no campeonato brasileiro deste ano ou na proxima copa do mundo, não tenho duvidas o time de coração terá maior importancia.
Até porque, o público não é o mesmo, jogos da seleção não são feitos pro povão!
O elenco de 2002 talvez tenha sido o último que fez os brasileiros se sentirem de fato torcedores do mesmo time! Hoje muita gente que curte futebol entende como um jogo de um time neutro!
Primo, ótimo Texto, partilho infelizmente da mesma opinião.
Lá em casa o futebol é coisa séria, aprendemos a trata-lo como religião, com a ritualistica severamente observada são louvados os Deuses Ademir da Guia, Leivinha, Oberdan, Marcos, etc.
Assim, realiza-se um terrorismo terrível com todos os torcedores brasileiros que sofrem com imbecilidades perpetradas pelos dirigentes, pois levam o futebol muito a sério.