Procura-se o matador

Após o jogo contra a Escócia, em março, escrevi sobre a ausência de um camisa 10 na seleção brasileira. Naquela partida, Mano Menezes havia escalado Jadson para a função. O jogador acabou substituído. Hoje, Jadson está no elenco na Copa América. Ganso seria o homem para o posto, problema resolvido, em tese, apesar da timidez na estréia contra a Venezuela.

O amistoso contra o sparring europeu, em março, também expôs outro sintoma da equipe, antes mesmo deste processo de renovação. Desde a aposentadoria de Ronaldo, a seleção não possui um centroavante capaz de colocar medo nas defesas adversárias. Se a camisa 10 tem um candidato à altura (Kaká ainda está vivo), o ataque só preencheu uma das vagas.

A camisa 9 entrou na dança das cadeiras e não consegue achar o par perfeito, que a vista com eficiência, tranqüilize os colegas e apavore os zagueiros. A solução parecia sacramentada com Adriano, que resolveu se comportar como ex-jogador e incinerou todas as oportunidades a ponto de atirar uma Copa do Mundo na lata do lixo.



Entre os demais candidatos, somente Luiz Fabiano quase ficou com o emprego. Serviu como coadjuvante no último Mundial, o que confirmou o histórico de atuação em times secundários na Europa. Luiz Fabiano retornou ao Brasil sem perspectiva de uma temporada proveitosa.

Fora o atacante do São Paulo, ninguém conseguiu uma sequência de jogos de alto nível. Pato ainda é jovem (22 anos) e representa a bola da vez. Por enquanto, está um passo a frente dos concorrentes, mas cumpre aquele prazo de experiência de todo empregado recém contratado.

Fred está na reserva e transmite, aos 27 anos, a sensação de que perdeu o bonde que o levaria ao estrelato. Chegou a marcar gol na Copa do Mundo, em 2006, e estava na fase final do processo seletivo. Mas Fred nunca se firmou no futebol europeu. E vive mais tempo no departamento médico do que em campo pelo Fluminense. Parece uma aposta pessoal do treinador Mano Menezes. Todo técnico tem sua cota de teimosia nas convocações.

Leandro Damião foi cortado às vésperas da Copa América. O atacante do Internacional é novo, forte, alto, com presença constante dentro da área, além de cabecear bem e chutar forte com a perna esquerda. Protagoniza a lista de goleadores no cenário nacional. Aos 21 anos, ele poderá estar nas Olimpíadas em 2012, caso mantenha a regularidade. O problema é que, na seleção, o jogador mal saiu das fraldas.



O melhor centroavante brasileiro, neste momento, talvez esteja na Europa, precisamente em Portugal. Hulk não foi mal nas poucas chances que teve com Mano Menezes. O atacante do Porto encheu o baú de gols na última temporada na conquista mais tranqüila que o time português teve no campeonato daquele país. É cogitado para atuar em clubes de maior expressão, embora o Porto tenha ido bem em competições europeias.

Hulk alia a modernidade e a tradição dos centroavantes que rompem defesas. É veloz e forte como muitos centroavantes brasileiros que fizeram história. E não joga paralisado na entrada da grande área. Pode servir como pivô para os colegas mais leves, mas também consegue atuar pelas laterais, com um chute de perna esquerda quase sempre superior a 100 quilômetros por hora. No mínimo, merece ser visto com mais cuidado.

A escassez de gols na gestão Mano Menezes reforça o cenário em que o matador ainda não nasceu. A seleção faz poucos gols e não incomoda, atualmente, os adversários de primeiro nível. O número 9 é o emprego da hora, sem currículos à altura da função.

Dependendo da perspectiva, o tempo está cada vez mais curto. Soa correta a fase de testes implementada por Mano Menezes. Mas o momento é paradoxal. Passa-se a mão na cabeça do candidato, mas ele deve saber que a avaliação inclui a pressão da camisa 9. Alguém assinará o contrato, sentará na cadeira e assumirá os riscos do cargo nos próximos três anos? A necessidade é para ontem!

Comentários

Marcus, ótimo texto, concordo com as proposições.Porém, esqueceu de mencionar o Kleber "gladiador" e claro, o Luan..

abraço
roberta estevam disse…
somente quem viu a melhor fase ronaldo em campo,e principalmente na seleção,sabe o quanto o seu texto tem propriedade em dizer que falta um centroavante matador.afinal ñ basta ser bom.se tratando de futebol tem que finalizar,saciar a sede se seus torcedores.sede de gol!