Por Vinicius Mauricio*
Maria, curiosa, se sentou no sofá branco de dona Maria. E a
patroa reclamou. Maria foi mais para a pontinha do móvel e contra-argumentou:
“Só um segundo!” Pasma, Maria olhou e se calou. Na TV, retratos de um futuro
que começava a ser pintado. Na sala, um quadro comum no Brasil diário. Que
coisa, decidiram pelas domésticas, lá num país desses que só rico vai.
Maria achou que ia virar patroa, mas Maria deu um banho de
fria realidade: Maria, continue a limpeza, pago pelas horas trabalhadas. E a empregada
levantou e ajeitou o vestido com jeito de gente grande. Pegou o espanador e
parecia arrumar com mais alegria, devido à notícia que ouvia.
Não era novela, e a repórter dizia: “Reunião Organização
Internacional do Trabalho assegura mesmos direitos que os outros profissionais
às empregadas domésticas. Constituição brasileira vai ter de se adequar...”
Imagine com o FGTS contar? Maria, nas nuvens, faxinava.
Maria patroa empinou o nariz e retrucou a repórter. Maria
não gostou e chiou. Nem era mais questão de aceitar ou não. Ambas teriam que se
interar da decisão. Maria desligou a TV e Maria ligou. Maria pensou: “Que Maria
abusada!” E a outra: “Que Maria abusada!” Eram iguais, em condições diferentes;
uma, agora, só mais potente.
A patroa sonhou que estava lavando louça, acordada no sofá,
e acordou: “Maria, deixa eu ouvir a TV!” E Maria apertou o botão para aumentar
o som, prestando atenção na repórter. Para ela, era melhor que ganhar na
loteria, era um grande dia. “Tá vendo, dona Maria, agora eu trabalho igual e ganho
diferente...” Maria estava contente e Maria, indiferente.
* Vinicius Mauricio é jornalista.
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