Tenho excesso de peso. Falta praticar mais exercícios que me dêem prazer, em pé ou deitado.
Trabalho como escravo voluntário. Falta tempo para jogar o relógio da burocracia fora.
Convivo com colegas diariamente; muitos deles por obrigação. Falta encontrar amigos para uma conversa e um abraço.
Tenho preguiça demais. Ainda bem que a vaidade está em falta no cinismo que me habita.
Pago dívidas perpétuas. Falta vergonha para abandonar os supérfluos e os descaminhos do cotidiano.
Faço críticas demais. Talvez seja a ausência da felicidade infantil da alienação.
Testemunho intolerância e arrogância por todos os lados. Sinto saudades das diferenças e do suicídio do padrão.
Ouço e leio bobagens em demasia. Preciso sentir a despedida temporária das redes sociais e seus comentaristas de oportunidade.
Amo meus filhos no limite da dor. A culpa é o resultado da distância, ainda que minha ausência seja por horas.
Coisas em excesso entopem minhas vias. Falta-me decência de atirá-las pela janela, sem apego ou remorso.
No excesso ou na falta, me recuso a desejar a falsa normalidade do meio-termo. Se o mundo é dos médios, prefiro salvar minha própria insanidade.
Comentários
Lembro-me de uma frase bíblica, em que Deus fala a Moisés, mais ou menos, assim:
"Que sejas frio ou quente, pois se fores môrno te vomitarei da minha boca!"
Abçs!
Também detesto o morno e linear!
Um grande beijo!
havia tempos não lia um texto tão profundo com tanta objetividade, realmente estou impressionado.
Concordo e acho que muitos dos aspectos citados se devem a couraça extremamente forte que desenvolvemos acreditando que nos fará sobreviver mais. Nos proteger? Do que? Da realidade? Percebo que algumas coisas que nos faltam estão ao nosso lado, mas infelizmente a couraça nos protege do que inclusive nos faria feliz.
Acho que vou frequentar mais este louco mundo de seus textos. (isso é um elogio ok)
Grande abraço.
Faz tempo que não leio um texto assim.
abs
É sereno, mas um pouco triste.
Ass: uma pessoa que vive a se perguntar o que é felicidade.