Os sete condenados

Ao divulgar a relação de 23 jogadores para a Copa do Mundo, o técnico Dunga agiu como um treinador de futebol. Ele foi coerente, teimoso e misturou critérios técnicos e subjetivos para definir o time. Adicionou ao caldeirão pitadas de contradições e preferências inconciliáveis com uma explicação racional.

O grupo infestado de volantes e reservas pouco me importa, no momento. O que me interessava realmente – até porque não acreditava em grandes surpresas, embora torcesse pelo contrário – era a lista de espera. Aqueles sete jogadores que podem ser convocados, caso algum dos 23 eleitos seja cortado por lesão.

A lista de espera, liberada ontem à tarde, é formada por: Alex (Chelsea/Inglaterra), Ronaldinho Gaúcho (Milan/Itália), Diego Tardelli (Atlético-MG), Ganso (Santos), Sandro (Internacional), Marcelo (Real Madrid/Espanha) e Carlos Eduardo (Hoffenheim/Alemanha). Na justificativa de Dunga, o pequeno grupo é formado por jogadores que podem executar várias funções.

Os sete jogadores receberam uma sentença. Tornaram-se a turma do quase. Não poderão treinar com o grupo. Não poderão sentir o clima da Copa do Mundo in loco. Não poderão vestir os uniformes da seleção tampouco tirar fotos com os torcedores. Ficarão de fora do pôster que decorará armários e paredes por todo o país.



A sentença estabelece uma pena de 19 dias. Segundo o regulamento da Fifa, se houver a necessidade de corte até 31 de maio, o técnico terá que convocar um dos sete condenados. A partir de 1º de junho, a lista perde validade e Dunga poderá convocar quem quiser. Um atleta pode ser trocado, em caso de lesão grave, até 24 horas antes da primeira partida da Copa.

A lista dos sete é um exercício de perversidade. Os membros deste grupo, claro, dão entrevistas amenas, sentem-se honrados pela lembrança, prometem torcer pelos colegas, dignos de estarem na África do Sul. No fundo, os sete precisam fazer mandingas pela desgraça alheia.

Estes jogadores receberam autorização para torcer por uma contusão de outro atleta. Ganharam carta branca para fingir solidariedade, enquanto acenderiam uma vela para que outra pessoa sofra dores ao ponto de impedi-la de trabalhar. Sair da lista de espera implica em orar – sabe-se para quem – pela fadiga, pelo sofrimento, pelo azar do outro.

Os sete foram condenados pelo técnico Dunga a cultivar a paciência. Regar um sonho durante 19 dias, sem garantias; apenas um cheque em branco do acaso os leva à Copa do Mundo. Tais jogadores deverão se acostumar com o descontrole de seus destinos dentro do mundo do futebol. O desempenho técnico ou físico, no caso deles, equivale a nada fora de seus clubes.

Os sete foram condenados à tortura psicológica até o final do mês. A crueldade virá, por exemplo, dos jornalistas, com as mesmas perguntas sobre a quase-convocação, sobre as expectativas de bater na trave do Mundial, sobre a torcida pela seleção. Os atletas serão machucados por torcedores que gritarão os nomes de alguns deles nas arquibancadas, enquanto os jogadores suam e sangram para focalizar seus esforços em decisões de campeonatos.



Os sete tiveram os pés cimentados na soleira da porta de entrada da história contemporânea. Enxergam o Olimpo, mas não tocarão em seus pilares. A nostalgia os elegerá como sujeitos injustiçados, que quase chegaram à Copa do Mundo. O “se” é o carimbo na testa de quem poderia fazer a diferença na África do Sul.

Os sete foram condenados à negação da última chance. Pior do que ser cortado é estar na lista de espera. Os sete tiveram negado o direito de mostrar para Dunga que merecem uma nova oportunidade. Não podem arrebentar em treinos, se transformar em arma-surpresa taticamente ou apresentar polivalência.

Qualquer um deles jamais poderá indicar para o treinador, dentro de campo, que ele escolheu errado um colega. Os sete têm como destino a espera por maus resultados para comentar, a boca pequena, que deveriam ter viajado à África. Se o time for campeão, as palavras deles soarão como invejosas ou de profundo ressentimento.

Os sete foram condenados a reforçar o cala-boca na opinião pública, que clamava por muitos deles, estendia faixas nos estádios, reivindicava nos programas de TV e de rádio. Se nenhum deles for ao Mundial e o Brasil vencer, as preferências nacionais, mais os coadjuvantes e as zebras da lista, cairão no ostracismo como símbolos do lobby.

Um exemplo era Romário, de unanimidade nacional a silêncio constrangido, em 2002, quando a seleção se tornou pentacampeã sob o comando de Luiz Felipe Scolari. A cada vitória na Ásia, Romário virava pauta velha.



Na convocação de ontem, o técnico Dunga não fugiu da cadeira de juiz. Manteve as posições cristalizadas em quatro anos, contornou as contradições de critérios e oficializou a turma de bons moços, leal e politicamente unida.

Dunga, como mensageiro do paraíso, enviou 23 jogadores ao panteão da história das Copas. E, como carrasco, de foice e roupa preta, condenou outros sete ao purgatório do mesmo endereço.

Comentários

Tem gente que deve dar graças a Deus de estar na lista de espera. Um só jogou bem faltando praticamente 3 meses para a convocação, amarelou numa final de sub-20 com jogadores da mesma idade, no Brasileirão do ano passado fez uma campanha medíocre, e, ainda por cima não foi testado na seleção principal e acredito que o Dunga foi coerente neste ponto. O Ronaldinho no jogo que ele precisou mostrar serviço num derby local perdeu penalty, teve atuação pífia e na noite anterior foi para uma festinha particular com seus amigos, cadê o comprometimento com o profissional do clube que remunera seus altos salários.
Sempre foi assim em convocações, nunca um técnico da seleção brasileira sendo ou não campeão do mundial, torcedores e jornalistas nunca foram hunanimes nas convocações. Em 1970 por exemplo, reclamaram da convocação de Dadá Maravilha e 1994 o Paulo Sérgio? E em 2002 onde houve um clamor pela convocação do Romário, sempre vai ser assim ....
Fenomeno disse…
Se deve ser duente cara!! vai se tratar dessa depressao!!
escreve coisas mais alegres, deve ter chorado enquanto escria estas besteiras!!ehaehahea

Nem todo mundo eh q nem voce!!
Fenômeno, é curioso que, em período de Copa do Mundo, muitos se tornam tão ufanistas que, qualquer posição contrária, vira alvo de intolerância. Por que somos obrigados a assinar embaixo nas decisões tomadas por figuras públicas? Temos que ser um bando de alienados felizes? Grande abraço!
Rafael Moreira disse…
Tudo bem que o autor do texto exagerou um pouco ao falar sobre "os sete". Porém, Juliano tem razão ao falar sobre Ronaldinho Gaúcho. Só para completar seu comentário, creio q o real objetivo do Ronaldinho Gaúcho é ESTAR na Copa, e não vencer na Copa. Pois, só assim, ele conseguiria maior prestígio em seu currículo e, consequentemente, um "senhor" aumento salarial. Só assim mesmo para conseguir um aumento, porque, com o futebol que vem apresentando.... Sem chance! Ele só joga quando quer!
Sobre o Ganso, foi coerente, Juliano, ao falar que ele jogou bem faltando 3 meses para a convocação. Mas, não esqueça que ele ESTÁ JOGANDO BEM. Isso é o mais importante. Pois, futebol é momento! E Ganso vice-campeão não foi vice-campeão "sozinho" pela seleção sub-20. O time inteiro foi inferior à Gana! Jogador não joga sozinho, cara! Vale lembrar também que a situação do jogador no clube reflete em campo enquanto veste a "amarelinha". Ganso não estava tão bem ano passado pelo santos. E quando digo que não estava TÃO BEM, quero dizer não tão bem como hoje. Mas, estava se destacando, sim! Ou, acaso, esqueceu que ele foi principal candidato ao prêmio de Jogador-Revelação do Campeonato Brasileiro do ano passado??
E outra: Tudo bem que o Paulo Henrique não jogou nenhuma vez pela Seleção Principal e que, portanto, não foi testado pelo técnico Dunga. Entretanto, sua convocação torna-se obviamente aceitável quando tentamos imaginar quem será o substituto de kaká. Já encontrou? Se sim, diga não só a mim, como a todos os amantes do futebol arte!
Imagine a cena:Aos 23 minutos, o Brasil está perdendo por 1 a 0 e Kaká, contundido (ou cansado), é substituído! Quem entra para cadenciar o jogo e levar o time ao ataque com a mesma classe e eficiência que lhe é tão característica? Júlio batista? Elano?Ah, já sei: Ramires!?? Não me faça rir!
A convocação de Paulo Henrique "Ganso" era (e ainda é) necessária, uma vez que Kaká não está bem tecnicamente muito menos fisicamente. A situação é emergente e isto torna-se evidente!
E o que dizer da convocação de Kléberson??? Será que ele está tão bem assim, a ponto de ofuscar Hernanes, Rodrigo Souto e tantos outros que jogam muito melhor que ele?? A fase de Kléberson já passou! Veio ao Brasil para encerrar carreira e não vem apresentando futebol digno do selecionado de Dunga!
É como divulguei em meus perfis de internet: "Shrek tem um burro que fala; a Seleção tem um burro que convoca!!!"
E tenho dito...

Parabéns, Marcus Vinícius, pelo texto. Sucesso em seu blog!
Fenomeno hahahaa depressão pq ? hhaaa e vc precisa se tratar de dislexia se escreve escrita e não escria hhahahaa