Procura-se um candidato outsider

O candidato a prefeito de Santos pelo PRTB, o médico Natan Kogos, desistiu da disputa eleitoral? O boato foi reforçado em vários círculos de conversa na cidade ao longo da semana por causa da ausência dele em cinco debates e em entrevistas marcadas com veículos de comunicação. Até o assessor de imprensa dele faltou em um encontro com estudantes universitários.

Kogos não desistiu! Tanto que ele foi visto na última terça-feira conversando com eleitores na avenida Epitácio Pessoa, no bairro da Aparecida. Ele permanece na disputa pela Prefeitura, mas – ao adotar a estratégia do silêncio – praticamente fechou todas as possibilidades de divulgação de suas idéias.

Com as mudanças na legislação eleitoral, o papel dos meios de comunicação – que promovem os debates de maior visibilidade, além de sabatinas – ganhou força, pois os veículos se tornaram um dos poucos espaços em que os candidatos podem expressar suas idéias com ressonância. Sabe-se que as regras para as emissoras de rádio e TV complicaram a rotina do jornalismo, mas – mesmo assim – estar no ar assegura ao político a aproximação com aquele potencial eleitor ainda aberto às propostas ou disposto a conhecer melhor as idéias dos concorrentes.

O candidato do PRTB tem todo direito de não conceder entrevistas e ignorar debates, porém deve ter consciência de que poderia avançar mais nas pesquisas eleitorais se aproveitasse melhor a credibilidade jornalística. De campanha modesta, Kogos patina entre 0,3% e 0,5% das intenções de voto, nas três pesquisas realizadas na cidade.

A imagem de uma cadeira vazia em um debate na TV pode ter impacto devastador para o representante de um partido nanico, enterrando-o de vez no ostracismo. É uma situação bem diferente quando o ausente lidera com 70% das intenções de voto e possui a sustentação de 17 partidos. O prefeito João Paulo Tavares Papa se encontra em posição de escolher as chances de exposição. Quem é vidraça não pode se arriscar com pedras menores, aquelas que não quebram, mas trincam a estrutura.

Apesar da trajetória escolhida por Natan Kogos, ainda restaram duas portas para um concorrente outsider como ele: o horário eleitoral gratuito e o corpo-a-corpo nas ruas. O corpo-a-corpo é uma estratégia que serve, no caso do candidato à Prefeitura, somente para demarcar território ou, na melhor das hipóteses, para reforçar uma imagem por vezes construída pelo marketing político.

É evidente que quem faz campanha de poucos recursos – o caso de Kogos – precisa estar nas ruas, mas o efeito será mínimo. O contato com o eleitor, com conversas miúdas, de pé de ouvido, vale mais para quem deseja estar na Câmara Municipal. O candidato a vereador precisa alcançar determinados nichos de eleitores para elevar as chances de vitória.

O horário eleitoral gratuito, por sua vez, é de eficácia duvidosa. A audiência é baixa. Trata-se de uma proposta que permita ao cidadão conhecer os candidatos, mas a fórmula soa utópica, já que se mostra incapaz de dar um passo adiante. O horário eleitoral, no caso dos prefeituráveis, repete velhas fórmulas, com dados estatísticos por vezes distorcidos conforme o sabor da situação ou da oposição, além da falta de profundidade nos projetos-promessas. Isso sem falar no tempo gasto com ataques a uma candidatura que navega em águas calmas, pronta para um plebiscito em 5 de outubro, e não mais uma eleição.

Natan Kogos é um médico respeitado em Santos. Teve suas razões para sonhar com a Prefeitura. Ninguém pode colocar em xeque uma proposta de mudança, de oxigenação das opções em uma eleição repleta de nomes viciados. Ele conseguiu atrair a atenção de uma minoria, que se mostra fiel dentro das pesquisas de opinião. Infelizmente, perdeu uma oportunidade ao seguir uma estratégia de silêncio para a maioria dos eleitores. O rumo talvez possa ser corrigido a uma semana da eleição. Depende do candidato querer deixar a lanterna e saltar para o quarto lugar no resultado final.

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