O defunto ainda quente

Matéria publicada no site http://www.boqnews.com/ como complemento à reportagem acima.

Antes de se debruçar sobre a vida de Paulo Coelho, Fernando Morais pretendia escrever a biografia do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, de quem é amigo pessoal. Mas ouviu do próprio candidato a biografado que a tarefa já estava nas mãos do jornalista Bob Fernandes (ex-Carta Capital).

Por isso, depois de publicar O Mago, a pergunta de anos atrás reaparece em qualquer encontro pelo Brasil: e o livro sobre o ex-senador Antônio Carlos Magalhães? Esta história acompanha Fernando Morais desde que ele lançou “Corações Sujos” (Cia.das Letras), em 2000, e anunciou o projeto. Na verdade, ele trabalha – com abandonos e retomadas - há 11 anos na biografia do ex-senador baiano, falecido no ano passado. Havia, inclusive, acertado com ACM que ele não leria a obra antes de ser publicada. “Se Paulo Coelho topou a proposta na hora, ACM pediu 15 dias para pensar. Mas ele aceitou.”

O escritor garante que não deve retomar a obra a curto prazo. Para ele, ACM ainda não morreu. Ele se refere à disputa pelo legado político e material do ex-senador. “Vou esperar o defunto esfriar.”

Preguiça - Apesar de distante das disputas eleitorais, Fernando Morais ainda é filiado ao PMDB. Mas afirma que por pura preguiça. “Sou filiado por inércia.” A forma pasteurizada da política o desiludiu e o faz lembrar da ditadura militar como um período mais interessante para o choque, para o debate de idéias. “Naquela época, as ações eram mais objetivas. Você sabia quem deveria derrubar.“, lamenta, entre duas tragadas de charuto.

Deputado federal por duas gestões, ex-secretário estadual da Cultura e da Educação, além de candidato a governador em uma ocasião, ele se cansou do processo político. “Hoje, os candidatos são muito parecidos. Faltam ações conjuntas. Em educação, por exemplo, governadores preferem colocar dinheiro em grandes obras”, lamenta.

Morais se revoltou, inclusive, com a organização das campanhas eleitorais. Ele vê o marketing político como vilão na construção da imagem dos candidatos. O escritor disse que viveu na pele a chance de se tornar um sabonete quando se candidatou a governador, há seis anos. “Queriam que eu cortasse o cabelo e aparasse a barba. Eu me recusei e tiveram que aceitar. Eu não vou me fantasiar. Além disso, tive que ceder tempo no horário eleitoral para o então candidato a senador Orestes Quércia.”

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