A maquiagem, as roupas e as cores vivas pouco importam para o palhaço. A variação se dá conforme o artista que se movimenta freneticamente no picadeiro. O nariz vermelho é o que o transforma em seu papel. O nariz é ponto de atração, simboliza o deboche, representa a crítica por meio do humor simples, universal, acessível a todos que seguem o circo.
O grupo Teatro Mágico carrega consigo a marginalidade nas veias do palhaço. Em Santos, a trupe – como os integrantes se vêem refletidos – cantou, dançou, representou, se equilibrou no palco de uma casa noturna na semana passada. Parecia a materialização da essência criativa de Plínio Marcos, nascido e criado na mesma cidade. A sensação era vivenciar o olhar do “palhaço maldito” distribuído nos integrantes, no cenário, na retórica artística, na equilibrista se contorcendo a três metros de altura.
Assim como Plínio, o Teatro Mágico é a arte construída pelo conhecimento popular, marginalizada e tratada como menor pelos eruditos. O palco se desenha como palanque, no qual as palavras ecoam sem a menor preocupação com o incômodo que podem causar nos ouvidos e na alma alheias. É a proposta de mudança pela arte. “É a arte que diferencia o homem do macaco”, esbraveja Galdino, violinista da banda.
O repertório da trupe se apóia no conhecimento tradicional, mas o utiliza em proveito das raízes de seus integrantes, jamais como pedestal de subserviência ao poder de quem detém a informação.
O Teatro Mágico mantém distância segura da indústria fonográfica para assegurar a essência criativa. Cultua a independência e gargalha do sistema, como um jogo de esconde-esconde com a indústria cultural. O grupo aproveita-se dos novos tempos da cultura de massa, da Internet como meio de divulgação rápido e incontrolável. A sobrevivência virtual cai como uma luva na lotação dos shows, de carne, osso e discurso ácido.
As músicas são disponibilizadas na rede; cds e dvds vendidos a preços populares numa banca montada na porta do show. Tecnologia é suporte para as idéias; jamais fim ideológico. Quem não se lembra de Plínio Marcos, com seus textos carregados de violência e crítica social, vendendo os próprios livros nas portas dos teatros que, muitas vezes, reuniam a classe média para assistir ao conteúdo dramatúrgico do autor santista?
Com quatro anos de vida, o Teatro Mágico remonta às raízes da cultura mambembe européia medieval. Percorre cidades misturando manifestações artísticas, ridicularizando o poder. Aproxima-se da religião sutilmente, mas não a reverencia. Usa o apelo visual como suporte para a força da palavra. No show, literatura e texto teatral se aliam como armamentos para completar o lado circense e musical.
Nascido em Osasco (SP), o Teatro Mágico respira o caldeirão da cultura brasileira. A conjunção de elementos é tão entranhada que se torna complicado perceber onde começam e onde desembocam as influências. Eis uma tentativa de separação: o Nordeste aparece vivo na união dos instrumentos. As melodias e as letras vão e voltam nos períodos históricos nacionais. A influência européia pulsa no violino. O sotaque paulistano é expelido pelo vocalista de traços mestiços.
Na entrada da apresentação, todos podiam adquirir – pelo simbólico preço de R$ 1 – um nariz vermelho. É a idéia de envolvimento, de interferência cultural na produção do artista. O público, em catarse quase coletiva, desfilava com seus narizes provisoriamente postiços e vibrava com as mensagens que desnudavam o status quo. Para muitos, informações que descortinam o cenário contemporâneo e o próprio microcosmo que desenterra as vivências amargas. Para outros, o reforço de concepções no palco, geradas pelas cordas vocais e pelos acordes da ocasião.
Ser mambembe não significa isto? Unir-se ao público, ouvi-lo, interpretá-lo com um improviso controlado. Arte não somente como mecanismo gerador de prazer, de entretenimento. É maneira de brotar o pensamento a respeito do mundo que nos cerca, que nos aliena, que talvez nos incomode. Ser mambembe é se entrelaçar, pelo mimetismo, com aqueles que acompanham o artista, mesmo que numa noite fugaz. Como se todos fossem uma coisa só por uma hora e meia de show. Depois disso, não depende mais do Teatro Mágico!
O grupo Teatro Mágico carrega consigo a marginalidade nas veias do palhaço. Em Santos, a trupe – como os integrantes se vêem refletidos – cantou, dançou, representou, se equilibrou no palco de uma casa noturna na semana passada. Parecia a materialização da essência criativa de Plínio Marcos, nascido e criado na mesma cidade. A sensação era vivenciar o olhar do “palhaço maldito” distribuído nos integrantes, no cenário, na retórica artística, na equilibrista se contorcendo a três metros de altura.
Assim como Plínio, o Teatro Mágico é a arte construída pelo conhecimento popular, marginalizada e tratada como menor pelos eruditos. O palco se desenha como palanque, no qual as palavras ecoam sem a menor preocupação com o incômodo que podem causar nos ouvidos e na alma alheias. É a proposta de mudança pela arte. “É a arte que diferencia o homem do macaco”, esbraveja Galdino, violinista da banda.
O repertório da trupe se apóia no conhecimento tradicional, mas o utiliza em proveito das raízes de seus integrantes, jamais como pedestal de subserviência ao poder de quem detém a informação.
O Teatro Mágico mantém distância segura da indústria fonográfica para assegurar a essência criativa. Cultua a independência e gargalha do sistema, como um jogo de esconde-esconde com a indústria cultural. O grupo aproveita-se dos novos tempos da cultura de massa, da Internet como meio de divulgação rápido e incontrolável. A sobrevivência virtual cai como uma luva na lotação dos shows, de carne, osso e discurso ácido.
As músicas são disponibilizadas na rede; cds e dvds vendidos a preços populares numa banca montada na porta do show. Tecnologia é suporte para as idéias; jamais fim ideológico. Quem não se lembra de Plínio Marcos, com seus textos carregados de violência e crítica social, vendendo os próprios livros nas portas dos teatros que, muitas vezes, reuniam a classe média para assistir ao conteúdo dramatúrgico do autor santista?
Com quatro anos de vida, o Teatro Mágico remonta às raízes da cultura mambembe européia medieval. Percorre cidades misturando manifestações artísticas, ridicularizando o poder. Aproxima-se da religião sutilmente, mas não a reverencia. Usa o apelo visual como suporte para a força da palavra. No show, literatura e texto teatral se aliam como armamentos para completar o lado circense e musical.
Nascido em Osasco (SP), o Teatro Mágico respira o caldeirão da cultura brasileira. A conjunção de elementos é tão entranhada que se torna complicado perceber onde começam e onde desembocam as influências. Eis uma tentativa de separação: o Nordeste aparece vivo na união dos instrumentos. As melodias e as letras vão e voltam nos períodos históricos nacionais. A influência européia pulsa no violino. O sotaque paulistano é expelido pelo vocalista de traços mestiços.
Na entrada da apresentação, todos podiam adquirir – pelo simbólico preço de R$ 1 – um nariz vermelho. É a idéia de envolvimento, de interferência cultural na produção do artista. O público, em catarse quase coletiva, desfilava com seus narizes provisoriamente postiços e vibrava com as mensagens que desnudavam o status quo. Para muitos, informações que descortinam o cenário contemporâneo e o próprio microcosmo que desenterra as vivências amargas. Para outros, o reforço de concepções no palco, geradas pelas cordas vocais e pelos acordes da ocasião.
Ser mambembe não significa isto? Unir-se ao público, ouvi-lo, interpretá-lo com um improviso controlado. Arte não somente como mecanismo gerador de prazer, de entretenimento. É maneira de brotar o pensamento a respeito do mundo que nos cerca, que nos aliena, que talvez nos incomode. Ser mambembe é se entrelaçar, pelo mimetismo, com aqueles que acompanham o artista, mesmo que numa noite fugaz. Como se todos fossem uma coisa só por uma hora e meia de show. Depois disso, não depende mais do Teatro Mágico!
Comentários
Apesar do grupo fazer críticas sociais, acho que a trupe é bastante inteligente em colocar uma pitada do que a massa gosta: Romanstismo e agito.
Mas não, Fernado Anitelli fez o que parecia, até então, impossível: misturar a arte do circo com música, poesia e cultura.
O resultado é claro, e bem o que vc disse. A questão da arte nao se limita apenas no hedonismo e o entretenimento, deve-se criar essa uniao com o público, para que haja, enfim, uma busca pelo 'pensar'... sobre tudo aquilo que nos envolve.
Ainda mais quando essa arte está disponibilizada a preço de 'banana'.. resultado dessa fuga da indústria fonográfica que, nem sempre, auxilia as bandas.
vale a pena conferir e instigar-se um pouco sobre td o que nos rodeia!
Adorei o texto!
Bruna Rossifini
Desde então, procurei saber quem era. Período difícil, sem google para pesquisar. Limitava em perguntar aos professores primários (eu deveria ter uns sete anos). Imagine a cara de espanto que a dona Francisca (minha professora da primeira série) fez com a minha indagação. Pela fisionomia que contornou seu rosto após a pergunta, passei a admirá-lo ainda mais, sem ao menos ler o que escrevi.
Fui ler suas “reportagens Malditas” mais velho, então pude entender o revide ao perguntar. Hoje, após morto, Plínio recebe fama de dramaturgo ao patamar de Nelson Rodrigues. Como profetizou nos semáforos de Santos, morreu para valorizar sua obra. Espero que a garotada, que tem a possibilidade de desfrutar e fazer parte de um momento de quebra de paradigmas, não tenha perca esta oportunidade.
Como diria Wado, em seu último CD, está na hora da reforma agrária das ondas dos rádios. (TV, jornais, Internet, cinema, teatro, literatura....)
traduziu o que tento traduzir com o projeto!
obrigado pela atenção junto ao TM, e que venha agora o segundo ato (aliás, já disponível na net! entre no site)!
abraço
fernando anitelli
Obrigado pelo comentário!!! Espero que a banda mantenha o vigor e a capacidade de provocar a reflexão. Abraço!!!