O impacto Telma

A ex-deputada Telma de Souza, aparentemente, se encontra fora de lugar. É evidente que os personagens da novela eleitoral mal se apresentaram ao público, porém a decisão de concorrer à Câmara Municipal sacode o cenário político da região, mesmo que seja uma resolução cogitada desde o início do ano.

A impressão é que a ex-prefeita decidiu, como prioridade, arregaçar as mangas para recolher os cacos do Partido dos Trabalhadores (PT) e evitar a redução ainda maior de espaço político nas eleições de outubro. Embora com cinco pré-candidatos a prefeito na Baixada Santista, o PT interfere como instituição no debate político somente em Santos.

Esse poder de fogo, contudo, diminuiu a partir do pleito de 2006, fruto das denúncias de corrupção em âmbito federal. Forças tradicionais como a ex-deputada Mariângela Duarte – hoje no PSB - deixaram o partido.

A presença de Telma de Souza na disputa eleitoral tira o Legislativo da inércia e da obviedade. O prefeito João Paulo Tavares Papa, com altos índices de popularidade, costurou ao longo de três anos e meio sólidas alianças na Câmara. Além disso, é perceptível que muitos partidos se agarram ao poder como moscas no mel, o que esvaziou a capacidade de oposição ao Executivo local. Três vereadores pouco podem incomodar uma administração, salvo questões pontuais.

Em outras palavras, Telma vai transpirar o debate político e não é importante simpatizar com ela para perceber a mudança de quadro em formação. Isso é fundamental para o processo democrático, pois o Legislativo – na atualidade – pouco acrescenta à retórica política. O projeto de lei sobre o salário dos médicos simboliza a ausência de fiscalização por parte da Câmara, que aprovou a proposta a toque de caixa.

Tornou-se senso comum crer que ela arrastará vários colegas da coligação petista para a Câmara. No entanto, é importante salientar que o eleitor age diferente ao votar para vereador. O critério proximidade, por exemplo, aparece com maior fluidez. Outro fator é a aposentadoria legislativa da vereadora Sueli Morgado, o que não significa que o eleitorado dela será fiel ao PT até porque, historicamente, muitas pessoas escolhem o voto mais pela personalidade e comportamento do candidato do que pela ideologia que o político carregaria em si.

Telma de Souza deveria estar em outro patamar político. Mereceria estar em outro nível de discussão pela própria trajetória. Deve-se respeitar a decisão dela, conforme a ex-deputada explicou no telejornal Opinião, da Record Litoral, que representa “o início de um novo ciclo”.

As alianças de última hora fortalecem expectativas de uma eleição decidida em primeiro turno para prefeito, em prol do Governo, resultado implacável com o processo democrático. Por outro ângulo, a simples presença de Telma de Souza como concorrente poderá alterar substancialmente o quadro de vereadores a partir de 2009. Só o fato de obrigar velhos caciques a colocarem as barbas no vinagre significa um avanço para a Câmara e, por tabela, para a cidade.
Mas nasce a pergunta: caso seja eleita vereadora e, ao mesmo tempo, convocada para assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados, pois é primeira suplente, com qual cargo Telma ficaria?

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