Artigo publicado em A TRIBUNA (Santos) no dia 13 de maio de 2008.
O dia 13 de maio merece “comemoração” mais justa, inclusive no sentido histórico. A “celebração” deveria consistir em um debate profundo e apartidário sobre os efeitos do processo de libertação dos escravos na sociedade brasileira contemporânea. Utilizar-se da data para valorizar uma assinatura somente como símbolo de mudanças profundas no país soa demasiado ingênuo e – quem sabe?- irresponsável.
O que se vê, na atualidade, é uma sucessão de discussões que caminham para a reflexão sobre a cereja do bolo, e não a respeito dos demais ingredientes que compõem a massa do mesmo doce.
Aproveitou-se a ocasião para se retomar o desgastado e maniqueísta debate sobre as cotas raciais nas universidades brasileiras, no qual a Universidade de Brasília (UNB) é eleita como exemplo maior. A questão das cotas não eleva – no calor da hora – o nível de discriminação racial da sociedade brasileira, tampouco serve de mecanismo de justiça social para os negros.
Na verdade, reforça o olhar partidário sobre o problema, apontando o foco para a polarização entre grupos politicamente estabelecidos e que se alternaram no poder na última década e meia. Analisar as cotas deste jeito retira da mesa o fato de que a maioria dos estudantes negros não alcança o ensino médio.
Os 120 anos da Lei Áurea devem nos mostrar que o Brasil pouco evoluiu como nação civilizada no sentido de reduzir o fosso de desigualdade social – independente de etnias -, além de expor a falência do sistema público de educação. Uma das marcas da frágil infra-estrutura nacional, a educação estatal colabora com a impossibilidade dos estudantes pobres – a maioria deles negros e pardos, e não a totalidade – de alcançar a universidade brasileira.
As escolas foram universalizadas nos últimos três governos. Mas os alunos são contemplados com ensino de qualidade? Ao mesmo tempo, podem aprender com eficiência se não residem em lugares com condições mínimas de conforto e segurança? Os estudantes possuem inúmeras portas abertas que facilitem a mobilidade social?
É claro que não! É cristalino que negros e pardos representam os maiores prejudicados pelo problema, mas não são contemplados com políticas públicas de longo prazo. Um em cada cinco mulheres negras no mercado de trabalho atua como empregada doméstica. Cerca de 64% das pessoas assassinadas no país (50 mil por ano) são de pele escura.
O Brasil é, incontestavelmente, uma nação racista e implacável na distribuição de recursos. Raça é um conceito cultural, jamais biológico, e serve como parâmetro para avaliações sociais no Brasil. Só que a mestiçagem envolve o juízo de valor pela aparência, mecanismo de defesa que pode ser mascarado com facilidade. Boa aparência na escolha de um funcionário, por exemplo, ganha critérios subjetivos e justificáveis ao bel prazer do covarde contratante.
Por outro lado, o discurso de auto-declaração étnica esconde ações de defesa na retórica, mas não soluciona as questões mais pragmáticas de uma sociedade que discrimina por cor da pele e por posição social, fruto da renda do individuo, literal ou simbólica.
Julgar pela aparência, desta maneira, se transforma na arma de quem detém o poder nas relações sociais. Doze décadas depois, parece – para usar um termo que gravita em torno do problema – que os grilhões ganharam formas diferentes, enquanto a casa grande e a senzala mudaram de endereço, mas com os mesmos personagens residentes.
O dia 13 de maio merece “comemoração” mais justa, inclusive no sentido histórico. A “celebração” deveria consistir em um debate profundo e apartidário sobre os efeitos do processo de libertação dos escravos na sociedade brasileira contemporânea. Utilizar-se da data para valorizar uma assinatura somente como símbolo de mudanças profundas no país soa demasiado ingênuo e – quem sabe?- irresponsável.
O que se vê, na atualidade, é uma sucessão de discussões que caminham para a reflexão sobre a cereja do bolo, e não a respeito dos demais ingredientes que compõem a massa do mesmo doce.
Aproveitou-se a ocasião para se retomar o desgastado e maniqueísta debate sobre as cotas raciais nas universidades brasileiras, no qual a Universidade de Brasília (UNB) é eleita como exemplo maior. A questão das cotas não eleva – no calor da hora – o nível de discriminação racial da sociedade brasileira, tampouco serve de mecanismo de justiça social para os negros.
Na verdade, reforça o olhar partidário sobre o problema, apontando o foco para a polarização entre grupos politicamente estabelecidos e que se alternaram no poder na última década e meia. Analisar as cotas deste jeito retira da mesa o fato de que a maioria dos estudantes negros não alcança o ensino médio.
Os 120 anos da Lei Áurea devem nos mostrar que o Brasil pouco evoluiu como nação civilizada no sentido de reduzir o fosso de desigualdade social – independente de etnias -, além de expor a falência do sistema público de educação. Uma das marcas da frágil infra-estrutura nacional, a educação estatal colabora com a impossibilidade dos estudantes pobres – a maioria deles negros e pardos, e não a totalidade – de alcançar a universidade brasileira.
As escolas foram universalizadas nos últimos três governos. Mas os alunos são contemplados com ensino de qualidade? Ao mesmo tempo, podem aprender com eficiência se não residem em lugares com condições mínimas de conforto e segurança? Os estudantes possuem inúmeras portas abertas que facilitem a mobilidade social?
É claro que não! É cristalino que negros e pardos representam os maiores prejudicados pelo problema, mas não são contemplados com políticas públicas de longo prazo. Um em cada cinco mulheres negras no mercado de trabalho atua como empregada doméstica. Cerca de 64% das pessoas assassinadas no país (50 mil por ano) são de pele escura.
O Brasil é, incontestavelmente, uma nação racista e implacável na distribuição de recursos. Raça é um conceito cultural, jamais biológico, e serve como parâmetro para avaliações sociais no Brasil. Só que a mestiçagem envolve o juízo de valor pela aparência, mecanismo de defesa que pode ser mascarado com facilidade. Boa aparência na escolha de um funcionário, por exemplo, ganha critérios subjetivos e justificáveis ao bel prazer do covarde contratante.
Por outro lado, o discurso de auto-declaração étnica esconde ações de defesa na retórica, mas não soluciona as questões mais pragmáticas de uma sociedade que discrimina por cor da pele e por posição social, fruto da renda do individuo, literal ou simbólica.
Julgar pela aparência, desta maneira, se transforma na arma de quem detém o poder nas relações sociais. Doze décadas depois, parece – para usar um termo que gravita em torno do problema – que os grilhões ganharam formas diferentes, enquanto a casa grande e a senzala mudaram de endereço, mas com os mesmos personagens residentes.
Comentários
Rendeu entrada no meu blog!
Grata
Werthmüller, Heidy Hellen