Sexo, mentiras e videotape

A vida de políticos, líderes, estadistas sempre aguçou a curiosidade de estudiosos a simples cidadãos. Isso é perceptível nos tradicionais livros de História, que se preocupavam apenas em relatar a trajetória de supostos heróis e vilões, vencedores e grandes derrotados. A biografia de personalidades políticas se tornou atraente para romancistas, cineastas e dramaturgos, que procuraram dar um certo molho a uma rotina profissional por vezes monótona e burocrática.
No entanto, figuras políticas entraram para a história (no sentido popular do termo) não apenas pelo que fizeram na vida pública, mas também pelos segredos de alcova. Ou seja: são lembrados, comentados, dissecados pelo que fazem no âmbito privado e, como num enredo ficcional, elementos sexuais se transformam em pimenta para melhorar o sabor de um biografado.
O cotidiano sexual de personalidades políticas, por vezes, ganha mais destaque do que as realizações administrativas. A transformação do príncipe Charles em absorvente feminino (palavras do próprio) para declarar paixão pela então amante Camila Parker-Bowles alimentou tablóides e o imaginário popular por semanas. Do outro lado, a lista de supostos amantes (muitos deles fizeram jus à fama) da princesa Diana contrastava com a imagem de moça ligada às causas humanitárias. Para muitos, a princesa do povo trazia visitantes aos aposentos para se vingar das constantes humilhações da família real. Coitada!
Do outro lado do Oceano Atlântico, os Estados Unidos, que atravessam grave recessão econômica, sonham com a instabilidade econômica da passagem do século XX para o atual. Mas a maioria dos norte-americanos lembra do ex-presidente Bill Clinton como o líder interessado em estagiárias feias que se escondiam embaixo de sua mesa.
Na semana retrasada, o senador John Mc Cain, virtual candidato republicano à presidência daquele país, teve que se defender – claro que ao lado da esposa plastificada e impassível – de acusações de relacionamento sexual com uma lobista. O jogo de influências na cama tornou secundária a denúncia de viagens em aviões de empresas ligadas à suposta amante. Até o Exterminador do Futuro se desculpou publicamente para vencer uma eleição. O governator Arnold Schwarzenegger era um costumaz bolinador de funcionárias. Na cultura política norte-americana, pular a cerca é pecado maior do que meter a mão no bolso alheio.
No quintal do mundo, as relações privadas e públicas dos políticos também alimentam o circo da mídia e as conversas de botequim. Recriam-se mitos, potencializam-se feitos e destroem-se carreiras. As fofocas são inerentes à história política brasileira. Comentava-se nas festas do Palácio Imperial que a Marquesa de Santos era tão dominadora que influenciava decisões políticas de D. Pedro. E Carlota Joaquina que, ao se desgarrar de D.João VI, usava e abusava do poder para seduzir escravos.
A lista é enorme e envolve ministros (o casal Bernardo e Zélia nos tempos de Collor), ex-presidentes construtores de capitais no cerrado, deputados e senadores em suas festas organizadas por cafetinas em Brasília. Sexo sempre andou de lençóis entrelaçados com a política.
È evidente que a exposição privada de personalidades públicas, na atualidade, cresceu em função da velocidade na circulação de informações, da maior quantidade de veículos de comunicação e da presença de novas mídias no cotidiano das pessoas, entre outros fatores. Em outras palavras, fuçar o que ocorre atrás das cortinas do espetáculo é um processo industrial e que resulta em lucro porque há público interessado em debater e interpretar tais segredos.
E quando acontece na micro-política, nos rincões do Brasil? Misturar público e privado pode destruir um político, guardadas as devidas proporções. Na semana passada, um ex-prefeito foi condenado à prisão por, indiretamente, ter comportamento promíscuo.
Olivan Antônio de Bortoli, ex-prefeito de Campos Borges (RS), foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Estado por usar um carro oficial para ir ao motel em 11 de agosto de 2003, quando exercia o cargo de administrador da cidade. Olivan estava em horário de expediente e foi flagrado saindo de um motel com uma prostituta. Na ocasião, tentou negar o inegável, pois câmeras da RBS TV (afiliada da Rede Globo no Estado) o esperavam na porta do estabelecimento.
A condenação se deu com base no uso indevido, em proveito próprio, de bem público. No caso, um automóvel Santana, de propriedade da Prefeitura. O então prefeito argumentou que, no máximo, cometera infração administrativa e que não lesara o patrimônio público.
Os segredos da hidromassagem causaram sérios danos à carreira do então prefeito de Olivan Bortoli. O TJ estipulou pena de dois anos e oito meses de prisão, além de proibir o exercício de cargo ou função pública, por nomeação ou eleição, por cinco anos.
No entanto, antes que alguém pense que a moda pode pegar, Bortoli foi perdoado. Se o perdão veio da esposa, não sei. Mas do Poder Judiciário, definitivamente. A pena do ex-prefeito de Campos Borges foi convertida em uma hora de serviços comunitários por dia durante o período da condenação e a doação de três salários mínimos a qualquer entidade assistencial do município.
A política e o sexo, no meio político, funcionam de maneira semelhante. Em ambos os casos, vale a pena flertar com o outro, sustentar relacionamentos por vezes eventuais e, acima de tudo, aparentar romantismo no momento da conquista. Estes fatores podem assegurar um momento de êxtase quase perfeito, mesmo que tenha que se desculpar depois.

Obs.: O título deste texto é emprestado de filme de mesmo nome, que fez relativo sucesso nos anos 80.

Comentários

wendell penedo disse…
A relação entre sexo e política, assim como qualquer outro tipo de relação humana, não me surpreende.
A postura do romancista é justamente essa, encontrar os fatores que podem fazer com que uma história seja mais interessante,não é mesmo? Já o jornalista, transformou-se num mero romancista chulo, que nos enche de contos baratos e vulgares?
A minha surpresa vem é da forma como a imprensa infla essa relação, ignorando os interesses públicos para focar suas lentes apenas no espetáculo. Em que momento o ridículo passou a ser mais interessante? De quem foi essa decisão afinal, da população ou da imprensa, ou é um acordo mútuo e hipócrita?
wendell,

obrigado pelo comentário!!! no entanto, gostaria de fazer rápidas considerações. No caso da imprensa, a relação entre público e privado aparece, com mais ou menos intensidade, desde que a notícia se transformou em produto à venda. Por outro lado, há culturas, como a norte-americano, nas quais o comportamento privado é visto como uma sinalização para o comportamento público. Os norte-americanos valorizam mais um escândalo sexual do que um deslize financeiro. A população tem sua cota de responsabilidade, embora menor, pois consome este tipo de conteúdo sem criticá-lo. Alguns jornalistas são romancistas chulos, como você disse, como em qualquer área, porém há aqueles que levam a responsabilidade social em alta conta. Esses devem ser respeitados. Grande abraço!!!
Rose Marques disse…
Olá, Professor!
Seus textos me fizeram lembrar por que motivo eu decidi fazer Jornalismo...
Abraço!
Rose,

Muito obrigado!!!

Continue observando o jornalismo como mecanismo de resistência e de cidadania. Facilita diante dos obstáculos. Abraço!!!!!